São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Troca-troca de treinadores reflete imediatismo

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com todo o respeito, discordo em quase tudo do presidente do Guarani, Beto Zini, que ontem ocupou este espaço para defender os presidentes de clubes contra as "cobranças, ingratidões e até agressões" que costumam receber.
Discordo sobretudo de sua explicação para a alta rotatividade de técnicos nos clubes. Segundo ele, isso acontece devido à "carência de bons profissionais no mercado".
Será? Como explicar, então, que entre os treinadores envolvidos nesse frenético troca-troca estejam nomes como Joel Santana, Nelsinho Batista, Carlos Alberto Silva, Wanderley Luxemburgo e até Carlos Alberto Parreira?
Cada um desses profissionais -que conquistaram os títulos mais importantes do futebol- teve em algum momento dos últimos anos pelo menos uma passagem-relâmpago por um grande clube brasileiro.
Não se trata, portanto, de deficiência técnica dos treinadores, mas de um problema muito mais complexo e profundo, em que o velho hábito cultural de ver o técnico como bode expiatório é agravado por uma distorção da gestão "moderna" do futebol.
Em nosso tempo, em que o esporte se transformou, acima de tudo, num espetáculo de marketing e de mídia, os treinadores passaram a dividir com os jogadores o papel de estrelas que antes era reservado exclusivamente a estes últimos.
Contratar um técnico "de nome" passou a ser, mais do que nunca, uma jogada de efeito junto ao público.
Um exemplo célebre é o do São Paulo, que, ao perder Telê Santana -técnico com o qual, em cinco anos, o clube conquistou seus maiores títulos-, optou por contratar Carlos Alberto Parreira.
Qual foi a lógica que comandou essa contratação, uma vez que Parreira era objetivamente o antípoda de Telê, em termos de filosofia de futebol?
Pura e simplesmente a lógica do marketing: depois da conquista da Copa do Mundo de 94, Parreira era uma "marca" à altura da "marca" Telê. O resultado foi o desastre que se sabe, e Parreira, claro, pagou o pato sozinho.
A contratação de Joel Santana pelo Corinthians no Brasileiro deste ano teve o mesmo sentido imediatista. Pensou-se mais no efeito-espetáculo da contratação do que na conveniência do treinador para o time naquele momento.
*
No momento em que escrevo, ainda não acabou a eleição no Vasco. O leitor já sabe se venceram os "novos almirantes" ou os "velhos piratas", para usar a feliz imagem criada por Juca Kfouri.
É óbvio que a velha cartolagem deve ser afastada, mas dinheiro não é sinônimo de modernidade.
Até agora, só ouvi falar nos milhões de dólares que o negócio do futebol pode gerar.
Como não sou sócio de nenhum desses bancos ou empresas, estou mais interessado em saber que propostas eles têm para elevar a qualidade do esporte e torná-lo mais agradável e acessível ao grande público. O resto é papo de contador.

Matinas Suzuki Jr., que escreve nesta coluna às terças, quintas e sábados, está em férias

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