São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Albita mostra que Cuba não é só salsa

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A cantora Albita está disposta a provar que música cubana não é sinônimo de salsa e que nem todas as cantoras latinas obedecem ao estereótipo de boneca "ultramaquiada" e "subtalentosa".
Seu estilo musical, o "punto guajiro", é a música campesina de Cuba. Mistura acordeão com percussão e viola com teclado elétrico.
Como refugiada em Miami, a cantora se tornou protegida do estilista Gianni Versace e causou até inveja à cantora Madonna, que declarou que, se tiver chance de reencarnar, quer voltar como Albita.
A musa andrógina de cabelos descoloridos que deixou Cuba há quatro anos e atravessou a pé a fronteira com os EUA já foi nomeada para um Grammy e viu seu nome no topo da parada da "Billboard" latina.
Mas o sucesso fora de sua ilha natal deixa uma lacuna. "Perdi meu público natural", diz Albita, que foi banida das rádios cubanas.
"Tenho que me apresentar para um público que num primeiro momento não me entende. É como soltar um brasileiro no Alaska."
Albita cresceu em Havana e é filha de um casal que apoiou a revolução que colocou Fidel Castro no poder. Seus pais também moram em Miami. "Deixei Cuba por várias razões, mas vou citar apenas a mais importante", disse a cantora em entrevista à Folha.
"Como artista, viajando pelo mundo, todos assumem que você simpatiza com o governo de Fidel. Se você não quer ser cúmplice, tem que deixar o país."
Diva eleita pelos cubanos exilados na vizinhança de Little Havana, em Miami, ela não se incomoda em revelar que sua companheira de alma é sua empresária Miriam Wong. Com os outros dez componentes da trupe, elas atravessaram a fronteira sabendo que não haveria volta.
"Eu tinha público, vendia discos. O risco de vir para cá era perder o que eu já tinha conseguido. Mas não quis me igualar às pessoas que não querem reconhecer que em Cuba há um problema sério."
A necessidade de comparar Albita a outras cantoras famosas é a prova de que a cultura pop a está absorvendo. Já a chamaram de Edith Piaf cubana e Annie Lennox hispânica.
A sensualidade revelada na capa de seu novo CD, "Una Mujer Como Yo...", não é a imagem que ela tem de si mesma. "Apenas faço o que o fotógrafo manda."
Segundo ela, sua geração é muito desapegada da música cubana, pois nos anos 60 foram proibidas as músicas em inglês no país.
"Proibiram Beatles, Rolling Stones", lembra ela, que nasceu em 1962. "Quando suspenderam a proibição, todos queriam escutar apenas esse tipo de música." Albita, ao contrário, resolveu divulgar a música campesina. "Sou como Quixote, não é? Faço música cubana porque me sinto orgulhosa."

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