São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Nós, os catastrofistas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Voltam queixas, em geral surdas, sobre um suposto catastrofismo desta Folha.
Não é coisa nova. Durante a agonia do presidente Tancredo Neves, dizia-se, igualmente, que o jornal "matava-o" todo dia um pouquinho, até pelo fato de ter sido quem revelou o fato de que Tancredo tinha um câncer (leiomioma) e não a inocente diverticulite dos comunicados oficiais.
Um domingo, uma amiga de minha mulher procurou-a para dizer o seguinte: "Olha, não é que eu não acredite na Folha. Eu só queria ter um pouco de esperança" (de que o presidente sobreviveria).
É um sentimento natural. O que seria incorreto é o jornal vender uma esperança que não se sustente em fatos.
Agora, guardadas as proporções, repete-se a situação. Exemplo: a Folha puxou para a capa relatório do banco de investimentos norte-americano Morgan Stanley que dizia que o Brasil corria o risco de ser a bola da vez.
No dia seguinte, o concorrente local, o "Estadão", rebateu, também na capa: "Não somos a bola da vez". Usava frase que atribuía ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mal o "Estadão" começou a circular com esse título na capa, o Banco Central dobrou a taxa de juros. Aí, de duas uma: ou o Brasil corria mesmo o risco de ser a bola da vez ou o pessoal do BC tem incontrolável inclinação para o sadismo.
O fato é que doenças de presidentes não se curam a golpes de notícias positivas, mas, quando podem ser curadas, com antibióticos ou seja qual for o remédio indicado conforme o caso. Assim como ataques especulativos não se enfrentam com manchetes nos jornais, mas com políticas econômicas consistentes.
Em todo o episódio da crise ainda em andamento, o leitor da Folha está apenas sendo levado para mais perto da realidade. Pena que ela seja desagradável. Mas continua sendo realidade. Atacar o espelho que a retrata não vai mudá-la.

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