São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Mercado diz que redução foi acertada

Medida evita remessa

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do governo de reduzir o prazo mínimo para as captações feitas no exterior, com o objetivo de facilitar a rolagem de títulos e evitar a remessa de recursos ao exterior, foi considerada uma medida acertada por parte de profissionais do mercado.
No entanto, a medida não garante, de imediato, que bancos e empresas deixarão de liquidar suas dívidas no vencimento.
Tudo vai depender do cenário externo, ou seja, se as taxas para empréstimos ao Brasil não estiverem muito elevadas, as dívidas poderão ser roladas.
Na última quinta-feira, o Banco Central (BC) reduziu de três para um ano o prazo mínimo para captações de recursos externos, na tentativa de minimizar a remessa de dólares para o exterior.
Até o final de março, o BC calcula que vencerão US$ 5,5 bilhões em títulos de dívida de bancos e empresas brasileiros no exterior.
"A medida é importante porque flexibiliza as operações. Há muito mais investidores dispostos a emprestar dinheiro por um prazo mais curto hoje", diz o vice-presidente do Bradesco, Antônio Bornia.
Ele explica que, por conta da turbulência dos mercados financeiros e da desconfiança em relação aos países emergentes, os investidores estrangeiros têm receio em emprestar por prazos mais longos.
Apesar dos elogios à medida, Bornia afirma que o Bradesco ainda não decidiu se rolará um eurobônus de US$ 100 milhões que vencerá dia 12 de dezembro.
"Isso dependerá de como o mercado estará na ocasião", diz Bornia.
O banco Bozano, Simonsen, que tem um eurobônus de US$ 20 milhões vencendo nesta semana, também só fará a rolagem da dívida se o custo, ou seja, a taxa demandada pelos investidores, estiver "compatível com a qualidade do banco", segundo sua assessoria de imprensa.
Ou seja, o Bozano não está disposto a pagar mais do que considera o seu risco de crédito real por causa da crise atual.
Em função da desconfiança em relação ao risco dos países emergentes, as taxas têm estado mais altas.
O Citibank também ainda não havia decidido na sexta-feira o que faria com um título de US$ 50 milhões que vence hoje. O banco tem ainda outro eurobônus do mesmo valor que vai vencer no próximo dia 22.
O Banco do Brasil é um dos poucos que já definiram sua estratégia e optou por não rolar a dívida, como seria desejo do governo.
"Vamos liquidá-la porque essa tem sido a nossa política. Não queremos saturar o mercado com nossos papéis. Além disso, os créditos que concedemos 'casados' com essa captação estarão vencendo", diz o superintendente da área internacional do BB, Rossano Maranhão.
O eurobônus do BB é de US$ 100 milhões e vence no dia 9 de dezembro.
Apesar disso, Maranhão considera a medida do governo "oportuna", porque vai facilitar as captações de empresas brasileiras no exterior nesse momento de crise.
Além de o apetite do investidor externo ser por créditos de prazo mais curtos neste momento, há a contrapartida dos bancos e empresas brasileiras, que não querem contrair dívidas longas porque as taxas estão mais elevadas.
"Os fundamentos da economia brasileira estão melhorando e em poucos meses as captações poderão voltar para prazos mais longos", avalia Maranhão.

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