São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Países ricos vão se abrir, diz especialista

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de restrição à entrada de migrantes estrangeiros nos países desenvolvidos vai acabar. É só uma questão de tempo.
Premidos pelo envelhecimento de suas populações, as nações ricas precisarão abrir suas fronteiras para a mão-de-obra jovem de outros países. Caso contrário, verão sua economia ruir, a começar pelo sistema previdenciário.
Quem defende essa tese é Manolo Abella, especialista em migração internacional da Organização Internacional do Trabalho, com sede na Suíça. Ele concedeu a seguinte entrevista à Folha, por correio eletrônico.
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Folha - Qual a influência da globalização nas ondas migratórias?
Manolo Abella - É muito difícil de discernir a influência da globalização sobre os padrões internacionais de migração em um curto período de tempo. O aumento do comércio não parece ter tido influência até agora nos padrões migratórios. Se olharmos para os fatores que influenciam a migração, tomando um como exemplo, vamos perceber que há poucas evidências de que haja uma convergência entres salários das economias desenvolvidas e das em desenvolvimento.
Nos países industrializados, os setores afetados pelo crescimento dos produtos importados de países menos desenvolvidos não são grandes absorvedores de mão-de-obra. Se olharmos a globalização dos fluxos de capitais, o que veremos é a concentração desse fluxo nos países industrializados, no Sudeste da Ásia e em partes da América Latina -não nas maiores fontes de emigrantes, como o sul da Ásia e o norte da África. O processo de globalização pode influenciar a migração, mas só de um modo muito fraco se comparado a outros fatores.
Folha - A migração internacional vai continuar crescendo nas próximas décadas?
Abella - A migração internacional está destinada a crescer por causa do aumento da renda per capita em várias partes do mundo em desenvolvimento.
Isso significa que mais pessoas podem obter informação e passam a poder investir num movimento migratório. Imagine o potencial da China, mesmo que a proporção continue minúscula em relação à sua população. Outros países populosos como Índia, Paquistão, Indonésia e Egito estão experimentando um crescimento constante.
Os fluxos, todavia, não necessariamente serão para o Norte (países ricos). De fato, uma grande proporção dos fluxos migratórios têm se dado entre países do Sul (pobres ou em desenvolvimento). Veja, por exemplo, o crescimento da migração interna na Ásia. Tailândia e Malásia atraem mais imigrantes trabalhadores do que Japão e Coréia combinados.
Folha - É possível que os fluxos migratórios alcancem o mesmo nível do começo do século?
Abella - Em termos de números absolutos, sim.
Folha - Quais são as principais rotas internacionais de migração atualmente?
Abella - Os principais fluxos migratórios por razões econômicas são: 1) do México e da América Central para os EUA; 2) da Ásia para a região do golfo Pérsico (Arábia Saudita, Kuait, Emirados Árabes Unidos); 3) da Ásia para o Pacífico (Japão, Coréia); 4) entre países da ex-URSS e entre países do Leste Europeu (em direção a países em transição, como Polônia, Hungria e República Tcheca); 5) dos países do oeste africano para Costa do Marfim e Gabão; 6) de países vizinhos para a África do Sul.
Folha - O senhor acredita que há alguma chance de inversão na atual tendência de restrições legais crescentes à migração entre países?
Abella - No longo prazo, os países ricos não terão outra alternativa senão abrir sua fronteiras por causa do envelhecimento rápido de suas populações.
Os sistemas de previdência social vão entrar em colapso se o topo da estrutura populacional (idosos aposentados) se tornar muito pesado. Migrantes infelizmente adotam rapidamente os padrões de fertilidade das populações nativas. Logo, é preciso manter os fluxos de entrada de pessoas para manter uma estrutura populacional jovem.

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