São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Obesidade ameaça a saúde pública

The Independent
de Londres

MARY DEJEVSKY

Qual a maior ameaça à saúde pública nos EUA? Se você acreditar nos comerciais da TV americana e olhar para a legislação recente, você provavelmente diria que é o cigarro, a Aids e o câncer de mama, nessa ordem.
Mas Michael Fumento, um ex-jornalista da área científica, diz que não. Aids e câncer de mama estão bem abaixo na lista. O fumo pode matar 400 mil americanos por ano -tornando-o o maior assassino individual no momento. Mas ele está sendo rapidamente ultrapassado pela obesidade.
Para um turista europeu, isso parece ser uma declaração óbvia. A presença de tanta gente obesa deve certamente custar caro a companhias de seguro e ao Tesouro, sem falar no sofrimento individual.
É isso mesmo, diz Fumento. A obesidade contribui para uma crescente incidência de doenças do coração, diabetes e provavelmente certos tipos de câncer, além de ser uma ameaça à saúde em geral.
Mas ninguém gosta de dizer isso. As pessoas não querem nem saber disso. Ofende gente demais: os 30% -provavelmente metade até o final do século se as projeções de Fumento estiverem corretas- cujas balanças apontam um peso mais de 20% acima do recomendado para a sua altura.
Antes do livro de Fumento, era possível vasculhar as prateleiras das livrarias gigantes dos EUA -recheadas de livros de saúde e dietas- sem encontrar uma única obra abordando a obesidade como um assunto de saúde pública. Não é algo também que seja citado pelas autoridades da área de saúde.
Fumento oferece duas explicações: primeiro, a obesidade é tão frequente e os EUA são tão insulares que as pessoas simplesmente pararam de reparar nela. Ele mesmo afirma que só notou o problema quando foi à Europa e se surpreendeu ao ver como as pessoas eram magras. A obesidade nos EUA não é obesidade. É normal.
Sua outra explicação, entretanto, é que, como as pessoas ficaram mais gordas, a gordura se tornou um tema político. Cada vez mais, grupos se dizendo porta-vozes dos obesos reclamam de discriminação e pedem igualdade de direitos. "Gordo é bonito", dizem, e comparam suas "dificuldades" às das minorias étnicas e das mulheres. E conseguem o apoio de ativistas dos direitos civis e da esquerda.
Ao tentar transmitir a sua mensagem, o maior problema de Fumento é que ele vem da direita e, ao pedir responsabilidade individual, é visto como se estivesse tentando estigmatizar de novo a obesidade. Sendo alguém que admite ter tido um problema de peso muitos anos atrás, ele argumenta que, ao contrário do seu sexo ou da cor da sua pele, a obesidade é algo que um indivíduo pode mudar usando um pouco de informação, disciplina e, acima de tudo, moderação.
Fumento acusa o governo e a indústria de alimentos de fazer os americanos acreditarem que ficarão magros comendo produtos com pouca gordura. Ninguém lhes diz que se eles comerem qualquer coisa em excesso eles ficarão gordos, afirma Fumento.
A importância das calorias foi minimizada, assim como o aumento na quantidade de açúcar de muitos produtos para compensar a falta de gordura, diz ele. Graças a refrigerantes, biscoitos, balas e salgadinhos -com o rótulo "low fat" (pouca gordura)-, os americanos agora consomem, em média, 250 gramas de açúcar por dia.
Esses fatores negativos, entretanto foram em boa parte afogados na fúria desencadeada pela sugestão do autor de que os americanos deveriam, e poderiam, emagrecer.

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