São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997 |
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Parlamentares aproveitam para lucrar
VALDO CRUZ
Os parlamentares querem se aproveitar do "desespero" do governo em aprovar medidas destinadas a salvar o Plano Real para engordar seu contracheque neste final de ano com um aumento de 59%. A estratégia, comandada silenciosamente por alguns parlamentares, vai na contramão do momento, em que o governo lançou um pacote fiscal impondo sacrifícios a toda a sociedade. A classe média pagará mais Imposto de Renda, os empresários vão gastar mais com impostos, e até os aposentados vão perder com as medidas fiscais. O custo não pára por aí. Há ainda o aumento das tarifas públicas e da taxa de embarque. Sem falar no que pode se transformar na pior consequência do pacote fiscal: uma recessão na economia brasileira, que aumentará o desemprego e reduzirá os ganhos dos empresários. O que está em curso, mais uma vez, é a velha barganha. Para aprovar a reforma administrativa, um grupo de parlamentares quer, em troca, aprovar um projeto que passa seus salários automaticamente para R$ 12.720. Esse valor é o teto que está fixado na emenda da reforma administrativa para os salários no serviço público. Ou seja, aprovada a reforma, nenhum funcionário público poderá ganhar acima desse valor. Hoje, os parlamentares ganham R$ 8.000. Aprovado o projeto, os salários dos deputados e senadores teriam um aumento de R$ 4.720 (59%). Um belo presente de Natal. Já os funcionários públicos, que recebem seus salários da mesma fonte que irriga o bolso dos parlamentares (o dinheiro do contribuinte), devem ficar durante os quatro anos do governo tucano sem aumento linear. Além de ficar sem reajuste, o funcionário público pode ainda perder seu emprego se estiver na lista dos 33 mil servidores não estáveis que serão demitidos. O aumento articulado no Congresso pode custar aos cofres do Tesouro R$ 2,751 milhões por mês, ou R$ 33 milhões num ano. O governo promete não atrapalhar a estratégia dos parlamentares, sancionando o projeto caso seja aprovado. Assessores de FHC justificam que o custo compensa a aprovação da reforma administrativa -uma economia de R$ 200 milhões por ano com a criação do teto. Fica difícil, porém, explicar para os eleitores por que eles terão de pagar uma parte da conta do ajuste fiscal, enquanto os parlamentares podem lucrar com a crise. O troco pode vir nas urnas em 98. Texto Anterior: FHC detona caça ao voto de 100 deputados Próximo Texto: Bancada paranaense do PFL troca apoio por empréstimos Índice |
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