São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC detona caça ao voto de 100 deputados

MARTA SALOMON

MARTA SALOMON; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Lobistas escalados por presidente mapeiam três tipos de parlamentares: 'vota-não-vota', 'só-ego' e 'escabrosos'

Cem deputados foram alvo da operação de caça a votos comandada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para aprovar a reforma administrativa.
Desses, 50% reivindicaram a liberação de verbas públicas para suas bases eleitorais, segundo planilha elaborada pelo próprio comando político do governo.
O grupo de governistas que ameaçava votar contra o governo ontem -batizado de "vota-não-vota"- representa a quarta parte da base de apoio do presidente no Congresso.
Abordados por ministros e líderes governistas, os indecisos investiram maciçamente na liberação de recursos para emendas apresentadas ao Orçamento da União.
O "Diário Oficial da União" de ontem tornou pública a liberação de dinheiro para obras e projetos de interesse das bases eleitorais de deputados. Na véspera, já haviam sido desbloqueados R$ 12 milhões para obras do Ministério dos Transportes.
'Só-ego' e 'escabrosos'
Um contingente intermediário de governistas rebelados reivindicou melhor tratamento por parte de ministros e altos funcionários da equipe econômica. Esse grupo, chamado "só-ego", representou 30% dos votos negociados.
Um terceiro grupo de parlamentares negociantes aproveitou a votação da reforma para tratar de "outros pedidos", inclusive nomeações para cargos públicos.
A operação teve como base o mapeamento da intenção de voto de cada um dos 513 deputados.
Os indecisos tinham seus nomes acompanhados de pequena observação sobre qual agrado faria cada um se decidir a favor da reforma administrativa.
Verbas
Na edição de ontem do "Diário Oficial", foram desbloqueados do Orçamento da União mais de R$ 20 milhões para obras e projetos de interesse dos parlamentares, segundo levantamento preliminar.
Parte desse dinheiro saiu da chamada "reserva de contingência" do governo federal, destinada a gastos urgentes e imprevisíveis, e que teve R$ 5 milhões de suas dotações canceladas.
O "Diário Oficial" também anunciou a assinatura de 131 convênios e contratos que representam a liberação efetiva de recursos pleiteados por parlamentares, na cota de R$ 1,5 milhão a que tiveram direito na lei orçamentária.
Exemplo: o deputado Talvane Albuquerque (PPB-AL) teve liberados R$ 75 mil da Secretaria de Políticas Regionais para um projeto de calçamento de ruas no município de Olho D'Água das Flores.
Procurado pela Folha, ele disse que já havia decidido votar a favor da reforma administrativa, independentemente do dinheiro: "Não estava nem ligado nisso".
"Normal"
O secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira, insistiu em que a edição do "Diário Oficial" era "normal" e "não tem nada a ver com a votação da reforma".
Segundo o ministro, a liberação de dinheiro para emendas de parlamentares já havia sido acertada anteriormente, durante a votação do FEF (Fundo de Estabilização Fiscal) e não atingirá 100% dos recursos previstos no Orçamento.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, afirmou ontem que a liberação de verbas para o cumprimento das emendas individuais ao Orçamento faz parte do acordo que previu a aprovação da prorrogação do FEF.

Texto Anterior: Supremo mantém rejeição de liminar que impediria votação
Próximo Texto: Parlamentares aproveitam para lucrar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.