São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997 |
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Sem-camisinha protestam no PR Mulheres fazem ato em frente à prefeitura FERNANDO MENDONÇA
Ele decretou anteontem a proibição da venda de preservativos nas farmácias e mercados da cidade. Também foi vetada pelo decreto a distribuição de qualquer método anticoncepcional no único hospital de Bocaiúva do Sul. Ontem à tarde, a comerciante Rose Kedzierski, 35, estava distribuindo panfletos às moradoras da cidade, convocando-as para uma reunião na Câmara: "às 18h30, não falte, use preto." "Nós, mulheres, nos sentimos agredidas moralmente por esse decreto", disse Rose. "Já tem homem convidando a gente para fazer filho. Viramos motivo de graça para o resto do Brasil, enquanto o palhaço do circo é outro e não usa saia." A revolta com o decreto não é só das mulheres. Florismundo Alberti Júnior, 34, dono de uma das duas farmácias existentes na cidade, disse que não está respeitando nem pretende respeitar o decreto. "Vendi camisinhas ontem (terça-feira) e hoje (ontem)", afirmou. Segundo ele, depois que as medidas do prefeito foram divulgadas pela imprensa, os homens da cidade também se tornaram alvo de chacotas. "Já andaram ligando perguntando se agora eu vou vender gemada na farmácia." Polêmica O prefeito, porém, não recebe apenas críticas. O padre Ennio Verdenelli, 58, disse apoiar "em termos" a iniciativa do prefeito. Para o padre, a estratégia empregada acertou "em cheio" o objetivo de chamar a atenção das autoridades para os problemas da região. Ele afirmou que as cidades do Vale do Ribeira estão completamente abandonadas pelo governo do Estado. "Ainda na semana passada, comentei que alguém precisava fazer alguma coisa para atrair a imprensa", declarou. O padre acredita que o prefeito não manterá o decreto por muito tempo. "Sabemos que a medida fere a Constituição", disse o padre Verdenelli. "Além disso, ele é um homem católico, que frequenta nossas missas e comunga." O presidente da Associação dos Magistrados do Paraná, Guilherme Luiz Gomes, 47, disse que o poder público não pode interferir na liberdade individual dos cidadãos para regular sua vida, incluindo a formação da própria família. Segundo ele, o artigo 226, parágrafo 7º, da Constituição Federal determina que "o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito". O prefeito Elcio Berti foi procurado ontem à tarde pelo promotor Joel Carneiro da Silva Filho, 27, que entregou a ele uma "recomendação administrativa" para revogar o decreto. Segundo o documento entregue pelo promotor, o prefeito "ofende o direito à saúde", "atenta contra o princípio da livre iniciativa" e "fere o princípio do livre planejamento familiar". Berti recebeu a recomendação administrativa e pediu para o promotor voltar na semana que vem. O prefeito Elcio Berti afirmou ontem à Agência Folha que baixou o decreto como uma jogada de "marketing". Segundo ele, Bocaiúva do Sul está hoje no noticiário internacional. "Imagine você que ligaram de uma rádio na China!" Berti disse que pretende manter o decreto, mesmo depois que a imprensa se afastar do caso. "Os moradores vão acabar se acostumando com as medidas. Vou sensibilizá-los para a necessidade de aumentar a população", afirmou. "Quero que as pessoas saibam da importância do amor, que também é uma coisa muito gostosa", disse Berti. Texto Anterior: Vítimas e voluntários correm risco de vida Próximo Texto: Mulheres protestam contra veto a camisinha Índice |
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