São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997 |
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Preconceito racial já existe na pré-escola
MARTA AVANCINI
Usando desenhos feitos por crianças entre 4 e 6 anos de três escolas de Campo Grande (MS), a antropóloga Lucimar Rosa observou como brancos e negros são tratados e representados de maneiras diferentes. "O preconceito se manifesta no cotidiano, geralmente não de forma agressiva. Às vezes, é por meio da rejeição na hora de escolher um parceiro", diz Lucimar. Fizeram parte do universo de análise cerca de 50 crianças de níveis sociais e de poderes aquisitivos diferentes. Lucimar os classificou como classe média alta (A), classe média (B) e classe baixa (C). A maneira como o negro é tratado varia de acordo com o grupo, mas, segundo a pesquisadora, é possível perceber a existência do preconceito racial em todos eles. No grupo A, as crianças representam o negro como um elemento externo ao seu universo de vida. "Ele aparece como jogador de futebol ou garçom." No segundo grupo, o B, o negro é tratado como um elemento mais próximo da realidade de vida da criança, mas ainda externo -ele é um vizinho ou um funcionário da escola onde a criança estuda. No grupo C, de menor poder aquisitivo e em que a presença de crianças negras é significativa (50% dos alunos pesquisados), Lucimar chegou a constatar a negação da condição de negro. "Algumas crianças negras desenharam elas próprias como brancas", conta a antropóloga. Hélio Santos, coordenador do GIT (Grupo Interministerial de Valorização da População Negra), ligado ao Ministério da Justiça, diz que a pesquisa é importante por demonstrar que, ao contrário do que se pensa, a conscientização tem de começar antes mesmo do ensino fundamental. "Esse trabalho tem de ser feito no dia-a-dia, como também demonstra a pesquisa realizada em Campo Grande", diz Santos. Nos três anos de trabalho, 2 das 3 escolas analisadas incorporaram a questão da diversidade étnica nas atividades com os alunos produzindo algumas mudanças na percepção das crianças, diz Lucimar. Paralelamente, Santos defende a realização de mudanças na legislação visando garantir a igualdade de acesso dos negros à educação, à saúde e ao mercado de trabalho. "É preciso estimular, por exemplo, as universidades a criarem mecanismos para flexibilizar e facilitar o acesso dos negros", diz. Ele estima que existam no Brasil cerca de 72 milhões de negros e pardos -10% nas classes A e B, de maior poder aquisitivo. Texto Anterior: Prefeito admite marketing Próximo Texto: Destino de local de quilombo é discutido Índice |
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