São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Descartar FMI é bravata, afirma Malan

VIVALDO DE SOUSA; VALDO CRUZ; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem ser contra "bravatas nacionalisteiras" ao falar que, se necessário, o Brasil poderá solicitar empréstimo ao FMI.
Malan voltou a negar, porém, que o país esteja negociando um acordo. Segundo ele, as relações com o Fundo Monetário Internacional são boas e, como país-membro, o Brasil poderia pedir com naturalidade um empréstimo, caso fosse necessário.
Na véspera, em entrevista ao jornal argentino "Clarín", o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, havia descartado a negociação de um acordo com o FMI, dizendo que "há uma perda de soberania" para o país que faz esse tipo de acerto. "E isso pode ser aceitável para outros países, mas não para nós."
Malan, ao ser questionado se sua declaração era um sinal de divergência com Gustavo Franco, disse que "não existe desafinação nenhuma" e que "o presidente do Banco Central está correto".
O ministro afirmou ainda que a posição oficial do Ministério da Fazenda sobre o FMI já fora divulgada. "A nota divulgada ontem (terça-feira) é a posição oficial do Ministério da Fazenda. Ninguém tem mais nada diferente a dizer depois do lançamento da nota."
A entrevista de Franco foi publicada pelo jornal argentino anteontem, no mesmo dia em que Malan divulgou a nota reafirmando que o Brasil não estava negociando acordo com o FMI, mas que poderia fazê-lo se fosse necessário.
Briga fabricada
Em conversas reservadas no Palácio do Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso analisou ontem as declarações de Malan e Gustavo Franco sobre o FMI. FHC disse a assessores que o que existe é uma "briga fabricada" para tentar enfraquecer o ministro da Fazenda e o presidente do BC.
Na avaliação feita no Palácio do Planalto, a suposta divergência estaria sendo inventada pelo mercado numa tentativa de provocar a saída de um dos dois do governo.
A avaliação na Fazenda é que faltou sintonia entre Malan e Franco para uniformizar o discurso. Os dois estariam dizendo a mesma coisa, mas com estilos diferentes.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, também procurou negar que existam divergências.
"De qualquer forma, quem fixa a posição é o presidente Fernando Henrique", afirmou Amaral. "E, como ele vem afirmando desde o início da semana, não há qualquer preconceito com relação a um eventual empréstimo. Simplesmente não há necessidade."
O BC disse que não comentará as declarações de Malan.
A nota de Malan foi divulgada para esclarecer uma entrevista sua a outro jornal argentino "La Nación" publicada domingo. Nela, o ministro declarou que havia "vantagens importantes" no caso de um acordo com o Fundo.
O ministro decidiu publicar a nota ao tomar conhecimento das declarações de Franco ao "Clarín". O ministro queria evitar um clima de confronto com o Fundo.
As declarações de Malan foram feitas durante depoimento de quase sete horas para deputados de cinco comissões da Câmara dos Deputados. Segundo ele, o Brasil não vai desvalorizar a moeda.
Questionado sobre a declarações do economista norte-americano Rudiger Dornbusch de que a moeda brasileira deveria ter uma desvalorização de 15%, Malan disse que o economista já tinha previsto desvalorização diferente antes.
"A primeira vez que ele falou sobre isso mencionou 40%, o que foi ridículo. Depois, caiu para 30% e 25% e se deu conta de que tinha exagerado a mão. Agora, falou em 15%. Espero que dá próxima vez esteja mais perto de 10% ou de uma taxa mais apropriada", disse o ministro.
Depois, Malan fez questão de dizer que o governo não considerava 10% o índice oficial de valorização do real em relação ao dólar.
(VIVALDO DE SOUSA, VALDO CRUZ E WILLIAM FRANÇA)

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