São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Regra para empréstimo será rígida

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LUXEMBURGO

O dinheiro ficará mais caro para os países em desenvolvimento como o Brasil e será bem mais difícil de obter, se for aprovada proposta que os grandes bancos internacionais estão fazendo.
O que os bancos querem é mexer nas regras que lhes obrigam a reservar uma idêntica porcentagem de seu capital quando fazem um empréstimo para uma firma sólida e poderosa como a Microsoft, de um país seguro como os Estados Unidos, ou para quando emprestam para uma firma de reputação duvidosa de um país igualmente suspeito.
Hoje, cada instituição financeira que faz um empréstimo tem que ter um colchão de 8% do total de seus ativos de risco (ou seja, emprestados) para cobrir a hipótese de o dinheiro emprestado não voltar. A porcentagem muda apenas no caso de empréstimos com a garantia de um bem hipotecado.
Mas vale tanto para empréstimos a países ou firmas da Europa como a companhias ou países do hoje problemático Sudeste Asiático.
Agora, o Instituto de Finança Internacional acha que "é tempo de rever essa regra", diz seu presidente, Georges Blum, também presidente da Swiss Bank Corporation, conforme relato do jornal britânico "Financial Times".
A proposta de Blum é previsível: aumentar o colchão quando se tratar de empréstimos para países de maior risco e reduzi-lo quando o cliente é uma grande companhia de países mais estáveis.
Em princípio, não há ligação entre a presente crise financeira quase global e a proposta do Instituto de Finança Internacional.
Mas é óbvio que foi provocada por ela. A queixa de Charles Dallara, principal executivo do instituto, é a de que as regras atuais fornecem "incentivos perversos para os bancos assumirem empréstimos arriscados".
Ou seja, as instituições financeiras olham mais para o retorno sobre o capital emprestado (sempre maior quando o empréstimo é feito a países ou companhias do mundo em desenvolvimento) do que para o colchão que devem ter para cobrir eventuais não-pagamentos dos clientes.
As regras em vigor foram aprovadas pelo chamado Comitê da Basiléia, a cidade da Suíça que serve de sede para o BIS (Banco de Compensações Internacionais), uma espécie de banco central dos bancos centrais.
Mudá-las exige um processo geralmente demorado. Mas a pressão do Instituto de Finança Internacional pode determinar alterações mais rápidas. Afinal, o Instituto reúne 282 dos principais bancos do mundo, espalhados por 56 países.
Aumentar o capital para cobrir riscos dos países em desenvolvimento significará, fatalmente, encarecer o custo do dinheiro para eles. Ou, na hipótese mais dura, fechar as torneiras para aqueles países mais vulneráveis na presente tormenta financeira global.

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