São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Perigos da superoferta no esporte

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, enquanto se discute a lei Pelé por aqui, vou relatar alguns fatos que acompanhei em um país, os EUA, que tem uma estrutura esportiva ultraprofissionalizada.
Aqueles leitores que só conseguem se satisfazer com o imediatismo do noticiário do dia-a-dia do futebol local, agora em fase de decisão, certamente acharão que perdem o seu precioso tempo com esse tipo de assunto.
Mas, como o Brasil está também em um momento de decisão na sua estrutura esportiva, e como o jornalismo escrito, em todos os setores, precisa analisar os horizontes do processo histórico -procedimento que o rádio e a TV dificilmente conseguem realizar-, é nossa tarefa fornecer elementos para a sociedade fazer as suas escolhas.
Como se sabe, o esporte é hoje uma importante fatia da indústria do entretenimento nos EUA. Mas saí de lá preocupado com a superoferta de opções esportivas.
Como se sabe desde o primeiro homem que tentou vender um objeto para o outro, sempre que a oferta é muito superior à demanda a tendência é a desvalorização do produto.
Em Nova York, entre canais abertos e TVs a cabo, você pode chegar facilmente a mais de uma dezena de canais oferecendo atrações esportivas diferentes durante o fim-de-semana (agora até o "soccer" é transmitido regularmente).
Americano sabe ganhar dinheiro como ninguém. Se não houvesse público para tanto esporte, eles não estariam sendo programados, certo?
Certo. E errado. Os índices de audiência com o esporte nos canais abertos estão caindo -por fatores diversos em cada modalidade, mas também pelo excesso de competições.
O jogo final da World Series (beisebol) deu 26 pontos nos 38 principais mercados urbanos.
Foi considerado um bom número quando comparado com audiências menores nas finais dos últimos anos, mas deve-se lembrar que a partida final em 1991 deu 32,2 e que média de audiência durante o outono de 97 foi próxima de 16 pontos. Em 1968, a média foi de 22,8.
O público alvo do esporte são os adolescentes e os adultos entre 18 e 34 (todos masculinos), certo? Pois bem, nessas faixas etárias, a família Simpson bateu a transmissão da final da World Series.
(Um exemplo do extremo ao qual o excesso de mercado no esporte pode levar está ocorrendo com o time campeão Flórida Marlins, de Miami: logo depois de conseguir o título inédito, o milionário proprietário do time o colocou à venda e pode haver uma debandada dos melhores jogadores).
Até agora na temporada 97-98, a NBA vem dando uma média 6.3 pontos, uma das mais baixas desde os anos 80.
(Mesmo assim, os direitos por quatro anos foram comprados por US$ 2,2 bi pela líder de audiência em TVs abertas, NBC -que pertence à General Eletric-, e para as TVs a cabo TNT e TBS -que agora pertencem ao maior conglomerado de comunicações do mundo, a Time Warner).
Diante dos altíssimos custos do esporte e da fragmentação da sua audiência, algumas empresas estão tirando dinheiro do esporte para patrocinar eventos na área cultural.

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