São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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É hoje

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Joaquín Cortés está provando seu poder de comunicação também no Brasil. Desconhecido do público brasileiro há até poucos meses, o bailarino espanhol estréia hoje em São Paulo para platéias lotadas. Os quatro espetáculos que faz no Palace até domingo estão com os ingressos quase esgotados.
Popstar da dança espanhola que se projetou internacionalmente em pouco mais de dois anos, Cortés acha que a atual receptividade à cultura latina favorece seu sucesso.
"Éramos tratados como terceiro-mundistas. Agora querem nos copiar. A cultura latina está em alta. Atualmente, na Europa, cultuam-se expressões como tango e flamenco. Quero que essa situação continue por muito tempo", diz.
Além de surgir no momento certo, Cortés soube se cercar de um aparato de mídia que vem lhe garantindo uma repercussão nunca alcançada por outros artistas da dança espanhola.
Nem mesmo Antonio Gades, cuja grandeza obscurece Cortés, conseguiu fama tão intensa e em tão pouco tempo. Como Gades, o bailarino e coreógrafo Cristóbal Reyes, tio de Cortés, é dotado do virtuosismo que faz o público delirar.
Em "Pasión Gitana", Reyes dança um solo de 15 minutos, destoando do resto do espetáculo. Ao contrário do flamenco agregado à dança clássica, moderna e jazz que o sobrinho pratica, Reyes proporciona um momento de virtuosismo dentro da mais pura tradição da dança espanhola.
Embora seja um principiante perto de Reyes, Joaquín Cortés possui os artifícios da moda, um território no qual os gênios dão lugar às estrelas, mesmo que o brilho seja fugaz.
"Joaquín contraria as regras da tradição, incomoda puristas, mas consegue atingir as massas, lotando estádios, praças de touros e ginásios", defende Reyes, que iniciou o sobrinho na dança.
"A colagem que Joaquín realiza é produto de muitas horas de estudo, pois ele se formou em balé clássico, além de se aprofundar no flamenco. Joaquín fala à juventude, que é o futuro", afirma Reyes.
"Hoje ninguém mais aguenta uma apresentação típica de flamenco, basta meia hora para o público sentir sono perante dançarinos acompanhados simplesmente de violonistas e cantores. Os jovens querem ver o flamenco de Joaquín. Na Espanha todos os ciganos querem ser Cortés."
É a raiz cigana de Cortés que inspira a cena de abertura de "Pasión Gitana". Com um grupo de músicos interpretando fusão de ritmos que sintonizam o flamenco com o jazz e o blues, o bailarino dança num cenário despojado, iluminado por velas em candelabros.
"Esse ambiente enfatiza o misticismo e a espiritualidade do povo cigano e sua origem indiana. Quando danço com uma saia negra e o torso nu também faço alusões à maneira como os ciganos se vestiam para participar dos rituais primitivos da Índia", diz Cortés.
Disposto a encarnar o orgulho e a rebeldia da raça cigana, Cortés diz que procura contar sua própria história em "Pasión Gitana".
Bailarino prodígio, aos 12 anos ele começou a estudar vários estilos de dança. A consequência dessa formação multifacetada, segundo ele, é o "flamenco fusion" que desenvolve hoje.

Espetáculo: Pasión Gitana, com Joaquín Cortés
Quando: hoje às 21h30; amanhã e sábado às 22h; domingo às 17h
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 011/531-0999)
Quanto: ingressos esgotados

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