São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Museu do Rio acusa adido cultural francês

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A exposição mais vista no Brasil em todos os tempos terminou em briga. Heloísa Lustosa, diretora do MNBA (Museu Nacional de Belas Artes), acusa o adido cultural e vice-cônsul da França no Rio, Romaric Buel, de gastar sem seu consentimento quase R$ 600 mil arrecadados pela exposição Monet.
Coordenador-geral da exposição, o chefe do Setor de Difusão do consulado francês, Bertrand Muller, afirma que Buel agiu com o conhecimento da Associação dos Amigos do MNBA. O dinheiro teria sido gasto no pagamento de despesas não-cobertas pelos patrocinadores do Projeto Monet. O vice-cônsul está fora do Brasil.
Realizada no MNBA de 12 de março a 19 de maio deste ano, a exposição, que reuniu 31 telas do pintor francês Claude Monet (1840-1926), além de trabalhos de impressionistas como Renoir, Manet e Boudin, foi visitada por 432.776 pessoas, recorde no país.
A inauguração da mostra foi prestigiada até pelo presidente da França, Jacques Chirac, que compareceu ao MNBA, no centro do Rio, com o presidente FHC.
Os R$ 845 mil arrecadados pelas bilheterias do MNBA e na venda de produtos nas lojas da exposição foram depositados em conta aberta pela Associação dos Amigos do Museu. O depósito em conta privada de dinheiro arrecadado em órgão público contraria legislação federal (decretos 99.602, de 1967, e 93.872, de 86).
Apesar do veto, a direção do museu autorizou o depósito na conta da associação. O dinheiro seria gasto conforme as despesas, sempre com a concordância de museu, associação e consulado.
Heloísa Lustosa afirma que não tinha conhecimento da legislação e que só aprovou parte das retiradas do representante francês na organização do Projeto Monet.
"Só aprovei o uso de R$ 280 mil. O resto não passou por mim. Não teve o meu 'de acordo'. O dinheiro foi gasto antes de ser devolvido aos cofres públicos", disse à Folha a diretora do MNBA.
A polêmica em torno do gasto do dinheiro decorrente da venda de ingressos começou em agosto, quando Lustosa enviou ofício ao presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Glauco Campello.
No ofício, Lustosa pede explicações sobre procedimentos administrativos referentes à questão da receita da exposição. A resposta de Campello alerta: deverá ser recolhido à conta do Tesouro Nacional todo o dinheiro obtido com a venda de ingressos no MNBA, por ser uma instituição federal.
Em outubro, o diretor financeiro da associação, banqueiro Theophilo de Azeredo Santos, passou a só liberar os cheques requeridos por Buel depois de receber autorização da diretora do museu.

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