São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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RUÍDO NA POLÍTICA ECONÔMICA

A falta de competência em comunicação das autoridades econômicas brasileiras é já uma tradição.
Aliás, a insensibilidade combinada à inconsistência e mesmo aos erros de implementação dariam um tratado de economia política da tecnocracia. São frequentes os erros operacionais e as declarações que criam turbulência nos mercados, infelizmente comuns nos momentos em que a transparência das medidas e a univocidade das intenções seriam imprescindíveis. As opiniões contraditórias sobre o FMI são um exemplo recente e grave dessa síndrome. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, reconheceu que pode ser até desejável um entendimento com o Fundo. Em seguida, o presidente do BC, Gustavo Franco, subitamente noviço do nacionalismo, alertou para os riscos de "perda de soberania" implícitos num acordo com o FMI.
A primeira constatação que se pode fazer é a de que as autoridades parecem dedicar-se mais a uma "egonomia" inaudita. Isto é, à administração de suas próprias vaidades, as quais, agora mais que nunca, estão maculadas pela desmoralização da audaciosa aposta cambial feita e refeita ao longo dos últimos três anos.
Basta lembrar que o presidente do Banco Central chegou a comparar os mecanismos que regem as taxas de câmbio aos mercados de bananas, menos por acreditar na tolice e mais por considerar que as críticas à sua política cambial não mereciam mais que ironias agressivas.
Gustavo Franco dizia também que os desequilíbrios nas contas externas poderiam sustentar-se por si mesmos, assim como uma bicicleta enquanto vai sendo pedalada.
De volta à realidade, interessam não apenas a disposição pessoal e a desarticulação entre os integrantes da equipe econômica, mas sobretudo o fato de que o país vem perdendo reservas internacionais.
É isso que, objetivamente, coloca o recurso ao Fundo Monetário Internacional como uma das alternativas possíveis. Apesar dos egos ainda hiperinflacionados de alguns dos pais do plano de estabilização.

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