São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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CRIMINOSOS NO VOLANTE

Uma pesquisa realizada pelos Detrans do país mais uma vez demonstra que os acidentes de trânsito são mesmo uma doença social. Verificou-se que 62,2% dos motoristas acidentados estavam alcoolizados -cerca de um terço deles acima do limite legal, o que confirma estimativa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego. Outros estavam drogados, dirigiam sem habilitação ou não cumpriam itens das normas de segurança. Mais de 43% dos acidentados se feriram em sábados ou domingos, dias de menos trânsito, mais velocidade e quando provavelmente mais se abusa do álcool.
A doença social do trânsito é influenciada por duas conhecidas síndromes nacionais -a negligência criminosa e a inobservância consciente das leis, as duas determinadas pelo individualismo exacerbado, pouco afeito às normas impessoais da boa convivência democrática. A taxa de acidentes de trânsito brasileira é quatro vezes maior que a dos EUA, o país mais motorizado do mundo. Em 1996, o Brasil contou 750 mil desastres em ruas e estradas, com cerca de 27 mil mortos.
Observe-se que esses males poderiam ser minorados se aplicadas as vacinas corretivas das multas e das apreensões de habilitações, o que não é prática usual em relação a muitas das irresponsabilidades cometidas no volante. No ano passado, na cidade de São Paulo, foram aplicadas 25 multas em motoristas alcoolizados, contra mais de 400 mil para estacionamento em local proibido. O delito mais perigoso e que exige mais trabalho para ser fiscalizado, apesar de evidentemente comum, não recebeu a devida atenção.
As ruas e estradas são uma séria ameaça à vida e um local de desperdício dos parcos recursos nacionais -os acidentes levam parte substancial da verba do sistema público de saúde. É hora de dar um basta a essa barbárie, confluência da leniência policial, para dizer o mínimo, e das autoridades com o individualismo de pessoas que se consideram especiais o bastante para não se submeterem à norma geral da lei.

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