São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Existência do mestrado é questionada

FERNANDO ROSSETTI
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A continuidade do mestrado como pré-requisito para o estudante fazer o doutorado foi questionada ontem no seminário "A Pós-Graduação no Brasil" pelo diretor do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), Jacob Palis.
"Proponho que a gente reveja o nosso sistema de pós-graduação para que ele seja mais maduro. Temos de romper essa ponte. O mestrado tem de ser parte do doutorado", disse Palis, que é vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
O curso de mestrado (formação posterior à graduação universitária), faz parte da história da pós-graduação brasileira. A idéia é que uma instituição que queira ter uma pós-graduação monte, primeiro, o mestrado e, depois, com este consolidado, o doutorado.
Nas melhores universidades brasileiras hoje, como a USP, o professor só ingressa na carreira acadêmica se tiver o título de doutor.
Idealmente, o curso de mestrado teria uma duração mais curta (dois anos, em média) do que o doutorado (quatro a cinco anos, em média) e não exigiria a produção de uma pesquisa original.
O problema é que, com o desenvolvimento da pós-graduação no país, o mestrado adquiriu várias conformações. Em algumas áreas -como a médica-, tornou-se um verdadeiro doutorado.
Em outros casos, o mestrado serve para suprir deficiências do ensino de graduação e possibilitar que o aluno desenvolva um doutorado mais elaborado.
Para Jacob Palis, "à medida que as instituições amadureçam, é possível que o mestrado vá desaparecendo". Para ele, devem ser considerados, para a extinção do mestrado, fatores como a região onde o curso é desenvolvido e a sua área de conhecimento.
Isso porque o mestrado assume, em alguns lugares, o papel de dar uma formação mais profissional aos alunos. Ou seja, a proposta de Palis é de acelerar a formação de pesquisadores no país.
O diretor da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ), Luís Pinguelli Rosa, disse que a graduação do país não teve o mesmo desenvolvimento que a pós.
Por isso, questionou a extinção do mestrado -que poderia servir de ponte de articulação da pós com a graduação. Mas aceitou, após o debate, a possibilidade de não haver mestrado em algumas instituições e áreas.
Esper Cavalheiro, pró-reitor de Pós-Graduação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), criticou o "engessamento" da pós-graduação brasileira.
Para ele, o modelo centralizado em duas agências federais (CNPq e Capes), que determinam como todo o sistema deve funcionar, está limitando o desenvolvimento da área.
(FR)

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