São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Cientistas temem crise na pós-graduação

FERNANDO ROSSETTI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Os cientistas brasileiros temem que o sistema de pós-graduação do país entre em crise com os prováveis cortes na área anunciados pelo governo federal.
O tamanho da crise ainda é incerto -até porque o governo está determin ando esta semana exatamente quanto e onde será cortado. Mas há um consenso -demonstrado com números- de que a redução de recursos para a pós-graduação resulta em uma diminuição da produtividade científica.
"Há uma correlação linear entre o aumento da pós-graduação e da produção científica", afirma o bioquímico Leopoldo de Meis, organizador do seminário "A Pós-Graduação no Brasil", iniciado ontem na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Se houver corte, deve haver crise", disse De Meis, autor do livro "O Perfil da Ciência Brasileira" (com Jacqueline Leta, Ed. UFRJ, 1996) -um dos mais completos estudos da história recente dessa área.
Nele, De Meis mostra, entre outras coisas, que a criação da pós-graduação no país, a partir de 1970, levou a um crescimento acentuado na produtividade científica e que, com investimento e políticas razoavelmente estáveis, produção e qualidade aumentam.
Segundo afirmações do setor econômico do governo, a perspectiva é de haver uma redução de R$ 100 milhões para essa área, o que representaria em torno de 11 mil bolsas federais a menos -um corte de 12% do total.
O representante do governo federal no seminário, Lindolpho de Carvalho Dias, secretário-executivo do MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia), afirmou que "as limitações que existem são administráveis".
Segundo Dias, os possíveis cortes "implicarão um direcionamento maior (das bolsas) para o apoio à formação ligada à pesquisa científica".
Isso quer dizer que as bolsas que eram dadas para a formação de pessoal de nível superior (como professores) devem ser as mais atingidas -pelo menos no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), órgão que concede essas bolsas.
O diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), José Fernando Perez, mostrou que o número de bolsas da agência praticamente dobrou nos últimos três anos -o que revela, entre outras coisas, uma demanda maior por esse nível de ensino e pesquisa.
Para ele, a possibilidade de cortes é preocupante. "São Paulo é fortemente dependente do sistema federal", afirmou.

O jornalista Fernando Rossetti viajou ao Rio a convite do Departamento de Bioquímica Médica da UFRJ e do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Unicamp

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