São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997 |
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Artista lembra homenageados
DA REPORTAGEM LOCAL A seguir, Paulinho da Viola conta histórias sobre os sambas e os sambistas que o influenciaram e que ele compila na primeira parte do álbum "Bebadachama".* Monsueto Menezes - "Assisti à gravação de 'A Fonte Secou' por Monsueto e Tufic Lauar. Meu pai participou da gravação, e eu acompanhei, tinha uns 12 anos. A única coisa que lembro é que eu fiquei do lado de fora do estúdio, e o coro estava junto da porta, porque não cabia todo mundo dentro. Virou sucesso nacional de Carnaval." Bide e Marçal - "'A Primeira Vez' é o samba que eu gostaria de ter feito, o que mais gosto de todos os sambas. Eu ouvia muito na casa do meu pai, na boemia." Paulo da Portela - "A primeira vez que ouvi 'Coleção de Passarinhos' foi com Clementina de Jesus, em 65, no show 'Rosa de Ouro'. Era a única gravação que eu conhecia desse samba do Paulo, mas depois descobriram que o Chico Alves já havia gravado, em 1928." Ismael Silva - "Ouvi uma vez no rádio um samba que deve ser um dos últimos dele e fiquei apaixonado. Esqueci de anotar o nome, não consigo achar mais. Queria tanto aprender aquele samba... Um dia eu vou achar." Ataulfo Alves - "Nunca tive intimidade com Ataulfo nem oportunidade de conversar com ele, mas o conheci dentro de uma Kombi. Só lembro que o Índio do Cavaquinho ofereceu uma carona. Entrei, Ataulfo estava sentado. Eu era ainda rapazinho, ele me cumprimentou, mas foi só isso." Wilson Baptista - "'Mulato Calado' também era cantado no 'Rosa de Ouro', conheci pela Clementina. Ele escreveu, mas não leva sua assinatura. Naquela época havia aquelas coisas de sociedade -ele pertencia a uma, não podia fazer música para outra, então botava nome de parente. 'Chico Brito', que gravei em 78, aprendi por uma fita, ele mesmo cantando, com violão e caixa de fósforo. Achei a fita e levei para casa." Araci de Almeida - "Conheci 'Triste Cuíca' na voz dela. Fiz dois shows com ela. O primeiro, no Rio, foi um sucesso. Em 69, em São Paulo, éramos eu, Araci, Jorge Ben, Toquinho e Trio Mocotó -um fracasso total, ninguém ia. Ela tinha arrumado um ioiô, que acendia luz, e brincava o tempo todo, nos bastidores, no palco." Walzinho e Orestes Barbosa - "Walzinho é um compositor meio maldito, mas foi um dos precursores da bossa nova. Gravei 'Doce Veneno' em 68. Um dia, na rua, alguém bateu nas minhas costas. Quando me virei, deu um pulo para trás, pediu desculpas por falar comigo e disse: 'Sou o Walzinho, você gravou uma música minha'. Acabou indo à minha casa e deixou várias músicas no gravador. Gravei 'Óculos Escuros'. Orestes só conheci lendo nos livros." Lupicinio Rodrigues - "Conheci rapidamente, numa festa. Era muito caladão, olhou para mim e disse: 'Ah, você gravou uma música minha'. Era 'Nervos de Aço'." Nelson Cavaquinho - "'Estás vendo esta árvore enjeitar folhas que envelhecem' é outro verso que eu queria ter feito. Isso é o Nelson, é ele falando com uma verdade que não se tem idéia. Ele cantava para os peixeiros na feira." Cartola - "Foi quem me deu meu primeiro cachê. Eu tocava no bar dele, o Zicartola, por festa. Ele disse: 'Tome isso para você, para a passagem'. Levei um susto, e ele passou a me dar sempre. Fui visitá-lo no hospital, quando já estava doente. Ele me olhou e disse: 'É isso aí, seu Paulo, a vida é isso aí'. Nunca mais me esqueci." Zé Keti - "A música dele no disco é inédita. Conhecia desde os anos 60, nunca havia sido gravada. Fui muito próximo dele. Eu não gostava muito de compor no começo, preferia só acompanhar. Ele dizia: 'Não, você tem que compor'. Foi importantíssimo para mim. É um de nossos grandes compositores, devia estar lá em cima." Texto Anterior: Paulinho relê passado e presente Próximo Texto: CD abriga luta entre simplicidade e redundância Índice |
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