São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Saiba quem é o ex-espião Primakov

JAIME SPITZCOVSKY
EDITOR DE EXTERIOR E CIÊNCIA

O chanceler Ievguêni Primakov, 68, um apaixonado por novelas de detetives, colecionou extenso currículo com atividades em jornalismo, espionagem, política soviética e diplomacia. Neste último campo, conseguiu uma vitória ainda parcial: recuperar espaço e prestígio para a máquina diplomática russa, depois da terra arrasada deixada por seu antecessor.
Em janeiro de 1996, Primakov substituiu Andrei Kozirev, um diplomata de talento duvidoso, que chegou ao poder empurrado pelos ventos do destino. Kozirev aceitou ser chanceler da Rússia quando ela era apenas uma das 15 unidades que formavam a extinta URSS.
Ou seja, até o desmoronamento do império, a chancelaria russa servia como refúgio para diplomatas com modestas pretensões. O centro de comando da diplomacia de Moscou era o ministério soviético, então capitaneado por Eduard Chevardnadze.
A URSS desapareceu, Kozirev assumiu as rédeas da diplomacia de Moscou, e a Rússia passou a seguir uma política desequilibrada. Voltou quase todas suas baterias para os EUA, à espera de ajuda financeira e apoio político.
O presidente Boris Ieltsin afastou Kozirev e encomendou a Primakov uma nova fórmula diplomática. O ex-chefe do serviço de espionagem russo vestiu a roupa de diplomata e diversificou o cardápio de seu ministério.
Primakov lembrou o perfil euroasiático da Rússia e apostou no chamado vetor oriental. Enfatizou, por exemplo, relações com os vizinhos Japão e China.
O mapa de Primakov também oferece espaço para a América Latina, região riscada pela visão míope de Kozirev. O ex-chanceler nem encontrava tempo em sua agenda para se reunir, em Moscou, com embaixadores latino-americanos.
Primakov chegou ao Brasil com a aura de responsável pela ressurreição da diplomacia russa. O brilho da vitória recente pode ofuscar as lembranças amargas de seu currículo, como o fracasso na tentativa de mediação às vésperas da Guerra do Golfo ou a vaia que recebeu de nacionalistas azerbaijanos, impedindo-o de discursar numa frustrada tentativa de apaziguamento durante um dos conflitos que pipocavam no caldeirão étnico da URSS em 1990.

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