São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Peça revê memórias mineiras de Betinho

NELSON DE SÁ

São imagens, memórias. São saudades da própria vida, espelhada em outras. Na pequena cidade mineira de Bocaiúva, mortos da infância de Betinho vão renascendo em recordações alegres, ainda que com a sombra triste da morte.
A adaptação de Elias Andreato, o diretor, altera pouco o que o sociólogo (e tanto mais do que um "sociólogo") escreveu logo antes de morrer. O livro editado ano passado foi redigido a partir de uma lista dos mortos de Bocaiúva, que Betinho pediu à prima que ainda mora na cidade, Ailce.
Ele vai então contando do tio-avô que era colecionador de tudo. De Lia, "meu primeiro amor", ele com cinco anos, ela com 19. Fala dos tantos loucos da cidade, ou melhor, dos sistemáticos. "Em Minas, na maioria dos casos, não há loucos... são os sistemáticos." Fala dos mendigos, os verdadeiros e os falsos. Do cachorro, que morreu. Dos fantasmas. Fala também de Henfil e dos irmãos. Da mãe, do pai. Do trem de Bocaiúva, "que também morreu". Enfim, fala da morte.
Ângelo Antônio, que ressurge no palco depois de anos afastado, é um outro ator, maduro e talentoso, no papel de Betinho. É enternecedor, com arrebatamento interior, verdade profunda. Com poucas ações, poucos elementos de cena, pouco mais do que uma mala e um banco, poderia seguir contando aquelas vidas "paralelas" interminavelmente, carinhoso com todas elas. Certamente, deve parte de um tamanho salto em seu trabalho ao diretor/ator Elias Andreato.
Por fim, a voz de Betinho, cantando "a volta do irmão do Henfil", não fica a dever a Chico Buarque. Que faltou.

A LISTA DE AILCE Texto: Herbert de Souza, o Betinho. Adaptação e direção: Elias Andreato. Com: Ângelo Antônio. Ruth Escobar - sala Dina Sfat (r. dos Ingleses, 209, Bela Vista, região central, tel. 289-2358). 390 lugares. Qui. a sáb.: 21h. Dom.: 20h. Até 21/12. Ingr.: R$ 20 (qui., sex. e dom.), R$ 25 (sáb.) e R$ 10 (nos postos da Apetesp).

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