São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Religioso culpa solidão por vício

LUIS HENRIQUE AMARAL
DO ENVIADO ESPECIAL

O padre gaúcho Oscar, 36, culpa a solidão por ter se tornado um alcoólatra.
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"Com 12 anos entrei no seminário. Fui ordenado em 1988 e passei a trabalhar na periferia de Porto Alegre. Quatro anos depois, assumi uma pequena paróquia no interior do Estado. O problema começou nesse município, onde eu me sentia muito só. Meus colegas padres mais próximos moravam a 25 km e eu procurava visitá-los. Mas não recebi o retorno. Acabei ficando isolado. Comprei uma parabólica e ficava vendo TV. Comecei a beber. A solidão me levou a manifestar a doença, que já estava em mim. Eu me casei com a solidão e nossa filha foi a bebida.
Eu não conseguia mais ajudar os outros. Achava que se eu não conseguia me ajudar, como ajudar os outros? Tinha vontade de enfiar a cabeça no sacrário (local onde ficam as hóstias) e não tirar mais.
Bebia escondido, estava inchado. E não me abria com os outros. Atrapalhava primeiro pela falta de disposição. Os mais próximos perceberam que eu bebia. Fizeram muita volta para tentar me ajudar, mas não tinham coragem de dizer que eu estava bebendo demais.
Nos últimos meses, houve muita emoção e choro entre eu e os amigos mais próximos. Eu realmente abri meu coração e a dor que estava sentindo. A emoção começou a rolar. Foi a indicação que estava maduro para me tratar.
Estou há três meses aqui, voltei a sonhar e a amar a pessoa que eu sou. Tenho a paz e poderei voltar a ajudar as pessoas."

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