São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Jornal segue fórmula comercial para mudar

Le Monde
de Paris

CLAUDINE MULARD

O anúncio da reestruturação do "Los Angeles Times" nas áreas de redação e de cadernos do jornal foi recebido com preocupação pela imprensa norte-americana.
Estaria o principal jornal diário do sul da Califórnia, movido pela necessidade de aumentar as ven das, sacrificando a sua integridade jornalística no altar dos imperativos comerciais?
Ou, pior, estaria Mark Willes, executivo do grupo Times Mirror e diretor do "LA Times" -saído da indústria alimentícia e que nunca hesitou em comparar o jornal a outro produto qualquer-, adotando abertamente um procedimento que está virando moda na imprensa escrita norte-americana? Estaria ele disposto a tudo para atrair leitores e anunciantes?
"A pior interferência na integridade jornalística é aquela que acontece quando o jornal não ganha dinheiro e não tem condições de fornecer o que deve", defende-se o novo editor-chefe do jornal, Michael Parks, citando o exemplo do lançamento recente do caderno de saúde, que já vem atraindo bons resultados.
O jornal se esforçava para produzir o caderno, mas ele só se concretizou quando um grupo de jornalistas e funcionários do departamento comercial gerou a sinergia necessária para a sua decolagem. Os protótipos do projeto foram testados junto ao público-alvo, segundo os princípios do marketing.
A experiência -"incomum até para nós", admite Parks- deu origem à reorganização.
Para Jeffrey Klein, o novo encarregado de informações, vindo do setor de marketing (que está coordenando a reestruturação), a iniciativa do "LA Times" foi mal interpretada, já que se resume a integrar esforços ainda fragmentados e garantir os recursos para produzir um jornal melhor.
"A pressão comercial sempre existiu, e nós opúnhamos resistência a ela. A alma de nossa instituição depende de nossa credibilidade. Os jornalistas não estarão atrelados ao departamento comercial. Não faremos um jornal para os anunciantes", diz Klein.
Apesar disso, Jim Horwitz, membro da organização Fair (Imparcialidade e Precisão no Jornalismo), que milita por um jornalismo sério que respeite os princípios deontológicos, teme que as mudanças possam conter o jornalismo investigativo. Para ele, "o jornal não será o mesmo".
As dificuldades do "LA Times", com circulação de 1 milhão de exemplares nos dias úteis e 1,3 milhão aos domingos (metade do mercado local de jornais diários), se devem a vários fatores: uma zona de distribuição muito grande, implicando na concorrência com outros jornais locais; a ausência na região de transportes coletivos (o lugar privilegiado de leitura do jornal diário), o multiculturalismo da cidade e a diversidade do leitorado, além da ausência de leitoras.
As reações aos métodos usados por Mark Willes têm sido mitigadas. Os jornalistas apreciam o aumento de vendas do jornal. O preço das ações da Times Mirror dobrou. Apesar disso, Shelby Coffey, que era editor-chefe do jornal há oito anos, preferiu pedir demissão.
Para definir sua visão de um jornal diário que quer dobrar a circulação, seu substituto, Michael Parks, ganhador do prêmio Pulitzer, explica: "Los Angeles será a capital do século 21, e seremos o jornal dessa capital. O sul da Califórnia é um modelo em termos de economia, de novas experiências e até mesmo de problemas sociais. E as pessoas querem saber o que as aguarda, não apenas na esquina, mas também no fim da rua."

Tradução de Clara Allain

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