São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Mulheres, mulheres

CLÓVIS ROSSI

Luxemburgo - Se eu fosse um machista fanático, teria a solução fácil e rápida para o problema do desemprego: mandar as mulheres de volta para o tanque e o fogão.
Pelo menos no caso da Europa, bastaria para reduzir o desemprego à metade do insuportável nível atual: dos 18 milhões de desempregados nos 15 países da União Européia, 9 milhões são mulheres.
A fórmula tanque-e-fogão reduziria o desemprego, portanto, dos atuais 10,6% para 5,3%, porcentagem muito próxima do nível norte-americano (4,8%), considerado como virtualmente pleno emprego.
Como sou um machista apenas moderado, sinto-me obrigado a dizer que tal solução é: 1) inteiramente inviável; 2) absolutamente indesejável.
Fique claro, portanto, que o ponto não é devolver o mulherio às funções de donas-de-casa. O ponto é encarar o fenômeno do desemprego levando em consideração o fato de que o mercado de trabalho mudou nos últimos 20 ou 30 anos, com a incorporação maciça das mulheres.
Logo, a economia precisaria gerar o dobro do número de empregos. Só assim conseguiria absorver os homens (quase os únicos que os procuravam antes) e as mulheres, que passaram a disputá-los também.
Como está ocorrendo o contrário (a economia cresce a metade do que crescia nos anos 60), resolver o problema do emprego assemelha-se a procurar a quadratura do círculo.
É por isso que valeria a pena prestar mais atenção a propostas como a do governo francês de criar empregos ditos sociais. Funções como cuidar em casa de enfermos.
Martine Aubry, a ministra francesa do Emprego e da Solidariedade, diz que o custo de uma única diária de hospital daria para pagar de três a quatro pessoas para cuidar do doente na própria casa deste.
Parece simplismo. Mas a alternativa é a impossível quadratura do círculo ou um inaceitável machismo.

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