São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ataque especulativo

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Quando o barco está calmo, tudo fica uma maravilha. Quando começa a sacudir, todo mundo fica enjoado.
Se o barco Brasil é vulnerável ao ataque de capitais voláteis e assassinos, a equipe econômica está ficando enjoada ao ser sacudida por variados ventos e agentes internos.
Entram aí todos os economistas que defendiam uma desvalorização do real, os banqueiros que sentaram em cima de dólares e os políticos governistas que não suportam a decantada arrogância de Gustavo Franco.
Nesse ataque político interno, é importante distinguir o que é para valer do que é puramente especulativo.
FHC de fato passou a ter um pé atrás com as verdades absolutas de Malan e Gustavo Franco, depois de descobrir que o saco de maldades guardado a sete laços era um blefe. O que contava mesmo eram uma reserva cambial sólida e a disposição de despejar milhões de dólares para segurar o tranco.
Entretanto, as divergências de Malan e Franco em relação ao FMI são tidas no Planalto só como "diferenças de estilo". O ministro tem sido até elogiado por ter simplesmente relevado o que chegou a ser entendido em alguns gabinetes como quebra de hierarquia do maroto Gustavinho.
De quebra, registra-se a queda de prestígio de Antonio Kandir, que conseguiu indispor-se com os governadores e as bancadas no Congresso -inclusive a tucana.
Se o país de Kandir desse certo, o crescimento de 98 seria de 9% (deve ficar em 2%), os 51 mil km da malha rodoviária entrariam em regime de concessão (serão só 7.000 Km) e todos os quase 7% de desempregados seriam salvos pelo "Brasil em Ação".
De prático, FHC tomou uma providência: André Lara Resende, o realista de plantão, vem funcionando como um ombudsman da economia.
Isso tudo, porém, não significa que ministros e presidente do BC estejam em desgraça, às turras e aguardando o momento apropriado para jogar o boné. Estão todos apenas de molho, com a sorte indelevelmente lançada: se a economia for bem, tudo isso passa; se for mal, adeus. Isso, é claro, vale para o chefe FHC em 1998.

Texto Anterior: Mulheres, mulheres
Próximo Texto: Protestos no Glória
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.