São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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CD revela Nepomuceno

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

Alberto Nepomuceno é uma espécie de elo perdido da música brasileira. Encravado entre os gigantes do século 19 -Carlos Gomes- e do 20 -Heitor Villa-Lobos-, ele hoje é quase inaudível, ao vivo ou em gravações.
O CD de canções do compositor interpretadas pela mezzo-soprano Anna Maria Kieffer e o pianista Achille Pichi torna acessível parte significativa de seu repertório.
O CD registra canções em português de Nepomuceno. Há versos de Machado de Assis, Gonçalves Dias, do português João de Deus.
Nepomuceno, que compôs canções em alemão, francês, italiano e até sueco, mostrou em português uma de suas facetas que apontava para o século 20: o apego à própria língua e ao regionalismo musical.
Antropofágico antes do termo, Nepomuceno aprendeu na Europa a se apossar de tudo o que se fazia em música no fim do século 19. Há em sua música ecos de Mahler, Richard Strauss, Debussy.
Foi com Grieg, na Suécia, que Nepomuceno começou a se interessar pelo material folclórico para o modernismo musical brasileiro.
No CD, Anna Maria Kieffer tem a oportunidade de revelar várias das facetas de Nepomuceno. Isolado em um país com poucas orquestras, o cearense explorou na voz e no piano todas as paisagens musicais pelas quais se interessou.
É verdade que lhe falta um pouco de gosto literário. Grande parte dos poemas para os quais compôs boa música é sofrível, Machado de Assis incluído.
Mas mesmo em versos medíocres como os de "A Jangada", de Juvenal Galeno, Nepomuceno consegue resultados admiráveis.
A qualidade de gravação deixa a desejar. A masterização deu um padrão de música popular ao CD, jogando o piano para um papel de mero acompanhante -excessivamente distante da voz- que Nepomuceno, dono de uma escritura musical sofisticada, certamente não desejou.

CD: Canções de Alberto Nepomuceno
Artistas: Anna Maria Kieffer (mezzo-soprano) e Achille Picchi (piano)
Lançamento: Akron
Quanto: R$ 18, em média

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