São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Movimentar seu corpo para viver mais e melhor

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mexa-se! Para quem se preocupa com saúde essa é a fórmula mais fácil para se obter bem-estar e melhor qualidade de vida. Falta de tempo é desculpa pouco válida, pois hoje os especialistas admitem que qualquer atividade, mesmo parcelada ao longo do dia, é melhor do que ficar parado.
Os prejuízos de uma vida sedentária não são poucos. Mais de 40 trabalhos independentes, publicados nos últimos anos nos Estados Unidos e na Europa, mostram que as doenças cardíacas são quase duas vezes mais comuns em pessoas inativas do que em pessoas que se exercitam.
A falta de exercícios e uma alimentação inadequada também estão na origem da obesidade, doença nutricional que ataca cada vez mais brasileiros.
Não é só o coração que ganha com a atividade física. O rendimento da respiração melhora, o gasto de calorias aumenta (ajudando na perda ou manutenção do peso), diabetes e hipertensão são mais facilmente controlados, músculos e ossos ficam mais fortes, o sistema imunológico trabalha de forma mais eficiente e pode "defender" melhor o organismo contra as infecções.
O exercício também faz o corpo liberar uma série de substâncias químicas que combatem o estresse, a falta de energia, o desânimo e o mau-humor. O rendimento cresce, a capacidade de concentração melhora e a pessoa ganha um aliado fundamental nessa "luta" diária que é tentar ficar de bem consigo mesma. Moral da história: uma qualidade de vida melhor.
O condicionamento físico ideal ainda é aquele obtido por meio de atividades aeróbicas de intensidade moderada (por 30 a 60 minutos), de três a quatro vezes por semana. Mas os especialistas perceberam que cada vez menos gente tem condições de inserir esse espaço na sua rotina diária.
Começou então a vigorar o conceito de que os benefícios podem ser alcançados mesmo com exercícios de curta duração e intensidade leve, que exigem apenas pequenas alterações nas atitudes cotidianas. Por exemplo, andar por dez minutos, duas ou três vezes ao dia, subir lentamente alguns lances de escada em casa ou no trabalho, deixar o controle remoto de lado e levantar-se para mudar o canal da TV e assim por diante.
Funciona como uma espécie de caderneta de poupança. Tudo que a pessoa faz ao longo do dia conta pontos na luta contra o sedentarismo. Trabalhos mostram que mesmo esse tipo fracionado de atividade física ajuda a prevenir doenças cardíacas.
Mas não se pode parar. Os benefícios alcançados cessam assim que a pessoa interrompe esse estilo mais ativo de vida.
Outras mudanças, além da atividade física, podem tornar o dia-a-dia muito mais saudável. A alimentação é a primeira delas.
O brasileiro não está comendo bem. A "americanização" da nossa dieta fez muita gente trocar o saudável arroz e feijão por um cardápio cheio de frituras, gorduras e doces. Resultado: a população está "engordando".
Mas, para combater esse problema, nada de dietas milagrosas ou mudanças bruscas na alimentação. Os especialistas reconhecem que esse tipo de intervenção acaba sendo tão violenta que ninguém aguenta. Em poucas semanas, os quilinhos extras voltam ao lugar de origem e a pessoa se frustra.
A proposta agora é mais flexível: uma dieta saudável, em que todos os nutrientes estejam combinados de maneira proporcional. Nada é proibido, desde que seja consumido em quantidade adequada. O antigo termo dieta (que traz uma conotação restritiva) está sendo substituído, pouco a pouco, por reeducação alimentar.
A base são refeições mais leves, intervalos mais curtos entre as refeições, muito líquido, pouco sal, pouco colesterol, prioridade para massas, frutas, verduras e legumes, consumo moderado de carnes, leite e derivados e pouca gordura, frituras e doces. Para quem almoça fora de casa, essa combinação é fácil de ser alcançada nos restaurantes por quilo que se espalharam por todas as cidades.
Por fim, é importante não esquecer de dar um descanso para a cabeça. Além da atividade física, o estresse pode ser reduzido com a criação de "áreas verdes" no cotidiano. São intervalos curtos, em que a pessoa consegue se desligar do trabalho e relaxar.
Pode ser uma volta no quarteirão, a leitura de uma revista em uma praça na hora do almoço, um papo com os colegas sobre o final de semana, um exercício de alongamento, enfim, qualquer coisa que faça as pessoas perceberem que a vida vai muito além do trabalho.
Este caderno pretende servir de guia para que você crie sua própria rotina para uma vida mais saudável. É importante você compreender que, por mais curta e leve que seja, qualquer atividade é melhor do que ficar parado. É fácil. Mesmo quem nunca saiu da frente da TV nas horas livres, pode melhorar sua saúde e prolongar sua vida quando começa a se mexer.

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