São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Acusado de chacina alega inocência

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-PM Arlindo Maginário Filho, 37, acusado de participar da chacina de Vigário Geral, alegou inocência no plenário do 2º Tribunal do Júri do Rio, mas se recusou a responder ao interrogatório ontem.
O primeiro dia do julgamento, que deve ir até amanhã, foi marcado pela expectativa sobre o estado da testemunha de acusação Vera Lúcia dos Santos, que perdeu oito parentes na chacina. Ela está grávida de nove meses.
O parto era esperado para o dia 17 de novembro, mas não aconteceu. A criança se chamará Luciene, em homenagem à irmã que Vera perdeu na chacina. A testemunha sentiu dores à tarde e está sendo observada pela equipe médica do Tribunal de Justiça.
Interessada no depoimento de Vera, a promotoria desistiu de parte da leitura dos autos para que ela fosse ouvida ainda na noite de ontem. Devem ser ouvidas mais oito testemunhas de acusação e quatro de defesa.
O testemunho de Vera é considerado fundamental para a acusação, pelos detalhes que relembra da chacina e pela emoção que costuma provocar nos jurados.
A promotoria apelará novamente para a emoção hoje, com a exibição de imagens das vítimas num telão. Cinco jurados são novatos em julgamentos. O júri, com quatro homens e três mulheres, é composto por uma enfermeira, um contínuo, um aposentado, um auxiliar administrativo, uma professora e dois funcionários públicos.
O advogado de Maginário, Maurício Neville, tentará mostrar que o informante Ivan Custódio, que acusou o ex-policial, sofreu uma espécie de "lavagem cerebral". "Ele foi claramente trabalhado", disse Neville, que apresentará um perfil de Ivan Custódio feito pela psicóloga Cristiane Coelho.
A defesa de Maginário irá jogar com o Ministério Público para mostrar que, se ele for condenado, o Ministério Público poderá estar indiretamente pedindo a absolvição de dez réus que serão julgados no próximo dia 3.
Os nomes desses réus não constavam de gravações analisadas pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com conversas entre policiais que "confessavam" a participação.
Maginário não foi "inocentado" pelas fitas. A defesa tentará desqualificar as gravações afirmando que uma bala achada no corpo de uma das vítimas saiu da arma do réu Gilson Nicolau de Araújo, "inocentado" pelas gravações. A chacina aconteceu em agosto de 93 e deixou 21 mortos.

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