São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997 |
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FHC vai a Londres com crise na bagagem
CLÓVIS ROSSI
Não do Brasil, especificamente, mas do conjunto de países que o jargão internacional designa como "mercados emergentes". Pela listagem da diplomacia norte-americana, o Brasil é um dos 12 BEMs (Big Emerging Markets ou grandes mercados emergentes). "O Brasil não é diferenciado dos outros países emergentes e, para todos eles, está tudo parado", admite o embaixador brasileiro. Por isso mesmo, a visita presidencial ao Reino Unido acabou mudando duas vezes de característica. Era para ser uma visita de Estado, uma das três qualificações constantes da liturgia diplomática britânica. Significa que o convite é da rainha e não do primeiro-ministro, o que dá direito a muita pompa, hospedagem no Palácio de Buckingham, a residência real, e desfile de carruagem. Mas a substância é pouca. Rubens Barbosa trabalhou para acrescentar densidade à visita. Conseguiu: o presidente terá encontros com representantes de duas diferentes categorias de empresários, os do mundo financeiro e os do setor produtivo. Era para ser "um grande oba-oba" em torno da boa fase da economia brasileira, admite o embaixador. Mas a crise asiática, com suas repercussões globais, não pediu licença para entrar na festa. "Agora, a visita se tornou crucial, porque o presidente e seus ministros poderão dizer o que o Brasil está fazendo para combater a crise", supõe Rubens Barbosa. Aplausos com dúvidas FHC, de todo modo, vai encontrar dois públicos receptivos. Para o empresariado do setor produtivo, aos quais, predominantemente, o presidente falará na terça-feira, o que importa no Brasil é o tamanho de seu mercado, mais do que turbulências, supostamente passageiras, no setor financeiro. "O Brasil é uma grande economia real, pelo território, recursos naturais e estrutura econômica", diz o embaixador em Paris, Marcos Azambuja. É de olho nesse potencial que o setor produtivo investe no Brasil e não está mudando de intenções, depõem separada, mas coincidentemente, Rubens Barbosa e Marcos Azambuja. O nó está nos que investem em papéis e se retraíram. É a eles que FHC falará na quarta-feira. Serão 22 executivos-chefes, uma amostra importante do maior centro financeiro europeu, a chamada City londrina, uma pequena área central em que se aglomeram 550 bancos de 80 países. "Se vão ou não acreditar no que o presidente disser, é outra história", admite o embaixador. Sinal dessa predisposição foi dado quinta-feira em artigo de Stephen Fidler, editor de América Latina do jornal "Financial Times", uma espécie de bíblia para esse tipo de público. Fidler qualifica de "veloz e resoluta" a maneira como o governo reagiu à crise asiática, na forma da duplicação dos juros e do pacote fiscal de R$ 18 bilhões. Basta? Não. "É muito cedo para saber se essas ações pouparão a moeda brasileira de uma desvalorização desordenada", completa o analista do "Financial Times". Uma avaliação que tem, em parte, o endosso do próprio embaixador Rubens Barbosa: "As medidas foram bem recebidas, mas agora é preciso executá-las na prática". Outra bíblia desse público "crucial" para FHC reforça o comentário do embaixador. "Os mercados mundiais demandam uma rápida aprovação (do pacote fiscal)", comenta a revista semanal "The Economist". Texto Anterior: Ministros estão licenciados de mandatos Próximo Texto: Passado acadêmico é ironizado Índice |
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