São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Bancos prevêem 1,2% de crescimento em 98

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pesquisa junto a 15 instituições apura que previsão é que juros vão voltar às taxas anteriores ao crash global

Levantamento entre 15 bancos nacionais e estrangeiros aponta para um crescimento de 1,2% da economia do Brasil em 98. As previsões mais pessimistas são de estagnação. As mais otimistas estimam em 2% o crescimento.
Os 15 bancos respondem mensalmente a uma pesquisa da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto). O resultado é sempre publicado. Em novembro, houve recomendação das instituições para que não houvesse divulgação. A Folha teve acesso a uma cópia.
Para o ano de 99, os bancos são um pouco mais otimistas. Na média, prevêem um crescimento econômico de 4%. Os mais pessimistas marcaram 1,5%. Os mais otimistas chagam a 4,5%.
O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país) é apenas um dos 22 itens respondidos pelas instituições bancárias.
A velocidade da desvalorização cambial é uma das perguntas. Os bancos demonstram ter uma grande confiança naquilo que o governo tem prometido.
Para os bancos consultados pela Andima, as medidas tomadas até agora pelo governo serão suficientes para reduzir o déficit comercial do país em 98 para R$ 4,1 bilhões. Neste ano, segundo as previsões, déficit ficará em R$ 9,3 bilhões.
O balanço de transações correntes -que envolve todas as contas externas do país, como pagamento de dívidas, importações etc.- será negativo de R$ 28,2 bilhões em 98 (3,7% do PIB).
As previsões das instituições financeiras sobre as contas públicas são boas. O superávit primário subirá de uma estimativa de 0,7% do PIB neste ano para 2% em 98. Superávit primário é o resultado de tudo o que o governo arrecada e gasta, não computados os gastos com juros e correção monetária.
No caso do déficit operacional, as expectativas também são otimistas. O déficit -receitas menos despesas, incluindo o pagamento de juros- cairia de 3% do PIB em 97 para 2,8% em 98.
No caso das reservas internacionais, a previsão dos bancos para o final deste ano é de US$ 51 bilhões. Ou seja, os bancos não acreditam que o governo conseguirá recuperar o dinheiro que saiu durante o auge da crise das Bolsas.
Para 98, a expectativa não é tão otimista. As reservas terminariam o próximo ano em torno de US$ 55 bilhões, um valor também abaixo do patamar de US$ 60 bilhões registrado até meados de outubro.
Juros
As previsões dos bancos consultados pela Andima indicam que a taxa de juros voltará logo para o patamar anterior ao que era registrado antes do crash global.
A taxa média de juros anual praticada pelo governo em 98, segundo o levantamento da Andima, deve ficar em 25,5%.
Hoje, a taxa está em torno de 40% ao ano. Antes da crise das Bolsas, os juros anuais estavam na casa dos 20%. O governo dobrou esse percentual para tentar manter o nível das reservas do país.
Segundo a Folha apurou, é incerto o ritmo de recuo da taxa de juros. Técnicos do governo enxergam duas estratégicas básicas: promover uma queda brusca nos próximos três meses ou fazer reduções mais lentas ao longo de um, dois ou três anos.
Não existe a hipótese de uma redução brusca daqui a seis meses. Isso traria um forte grau de desestruturação na economia. Hoje, várias empresas que captam dinheiro no exterior estão avaliando como fazer para continuar a financiar esse tipo de empréstimo.
Na visão de técnicos do governo, os empresários brasileiros terão oxigênio para aguentar até uns três meses sem aceitar pagar juros mais altos no exterior para trazer dinheiro para o Brasil.
Depois de três meses, os empresários acabarão lançando papéis lá fora com juros compatíveis aos praticados internamente. Como esses bônus são de médio prazo, o governo ficaria impossibilitado de derrubar bruscamente as taxas de juros no país -pois isso acabaria quebrando muitas empresas.
Daí a lógica de fazer a redução brusca no máximo, até fevereiro ou início de março. Depois disso, seria necessário optar pelo caminho da redução lenta e gradual das taxas de juros. Essa última opção não interessa ao governo, por razões econômicas e eleitorais.
Se baixar as taxas de juros até fevereiro ou março do ano que vem, há uma chance mais concreta de a economia voltar a crescer de forma mais acentuada. Isso ajudaria a reforçar a campanha da reeleição.

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