São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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O elogio da postura sábia

Nélida Piñon e Antonio J. Severino analisam a sabedoria

RENATO SZTUTMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Afinal, como definir a sabedoria? Tarefa difícil para um debate mesmo quando os debatedores apresentam familiaridade com o universo do saber.
Tal inquietação esteve presente na série "Diálogos Impertinentes" do último 28 de outubro. Para discutir o tema da sabedoria, o evento contou com a presença de Antonio Joaquim Severino, professor de filosofia da educação da Faculdade de Educação da USP, e da escritora Nélida Piñon (atual presidente da Academia Brasileira de Letras). A mediação ficou a cargo de Mário Sérgio Cortela, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e de Nelson Ascher, poeta e ensaísta.
A série "Diálogos Impertinentes" é promovida conjuntamente pela Folha, PUC-SP e pelo Sesc (Serviço Social do Comércio).
O vasto repertório de referências -da Grécia Antiga à era da informática, passando pela Bíblia e pela filosofia alemã- de cada um dos debatedores deu o tom de uma discussão bastante erudita.
Ambos elegeram uma concepção de sabedoria não como exclusividade do pensamento racionalista -privilegiado pela civilização ocidental-, mas como dotada de um substrato popular.
A defesa da máxima de Sócrates -"só sei que nada sei"-, lançada logo no início por Cortela, norteou o debate. Como salientou Severino, não é possível equiparar a sabedoria a um conhecimento absoluto. Pelo contrário, o sábio é aquele que, em primeiro lugar, se mostra consciente da precariedade de todo o seu saber.
Severino afirmou ser impossível dissociar a sabedoria da prática. Ela, neste sentido, ocuparia o lugar de um "saber fazer", um poder lidar com os problemas dados no cotidiano. Os debatedores argumentaram que o saber pressupõe o senso de relatividade e não pode compreender o dogmatismo.
Nélida apontou a intervenção da paixão no processo de aquisição de conhecimento. "A sabedoria esbarra em um elemento mais fundamental, mais fogoso e ao mesmo tempo extraordinário da humanidade que é a paixão humana."
O debate encerrou-se com a apologia do saber e da sabedoria. Para os participantes, estes poderiam servir de antídoto para muitos dos problemas de nossa sociedade, onde prevalece a tecnocracia e a compartimentação do conhecimento. "Tudo o que nos torna mais cidadãos é fruto de uma atitude de sabedoria", disse Severino.
"O saber é prazeroso, é sensual, e a sabedoria nos confere uma humanidade que não temos quando nascemos.", afirmou Piñon.

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