São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Americanas criticam propaganda da Nike

Grupos acham 'hipócrita' campanha na TV

JOHN CARLIN
DO "THE INDEPENDENT"

Grupos feministas norte-americanos criticam a Nike, produtora de tênis, pelo que qualificam de tratamento abusivo dado pela multinacional à força de trabalho feminina em suas fábricas na Ásia.
Uma coalizão, formada por 15 grupos de mulheres, escreveu uma carta ao presidente do Conselho Diretor da Nike, Philip Knight, qualificando de hipócrita a nova campanha publicitária da marca na televisão norte-americana, visando as consumidoras.
Os comerciais da Nike mostram imagens de atletas fortes e bem torneadas, e procuram convencer as mulheres norte-americanas que, se comprarem os tênis da Nike, elas também podem se tornar "mulheres poderosas".
Realidade deplorável
O problema, segundo os grupos feministas, é que os anúncios ocultam uma realidade deplorável: a de que as mulheres indonésias, vietnamitas e chinesas, que produzem os tênis Nike comprados no Ocidente, são fracas e destituídas de poder.
"O slogan da Nike é atraente: 'Não existe linha de chegada"', diz a carta.
"Infelizmente, também se aplica a algumas das fábricas da Nike no exterior, onde, segundo contracheques de fábricas da Nike na Indonésia, as mulheres são forçadas a trabalhar entre 100 e 200 horas extras por mês para poderem sobreviver", continua o documento.
"Enquanto as mulheres que usam tênis Nike nos EUA são encorajadas a dar o melhor de si, as mulheres indonésias, vietnamitas e chinesas, que fabricam os tênis, muitas vezes recebem baixos salários e são submetidas a castigos físicos, horas extras forçadas e/ou assédio sexual."
A carta -assinada, entre outras, pela célebre escritora Alice Walker e pela Organização Nacional de Mulheres, um dos primeiros grupos feministas dos Estados Unidos- visa expandir a campanha de propaganda contra a multinacional, cujo êxito comercial é imenso.
Até agora, a Nike parece ter continuado imune às críticas feitas pelas organizações trabalhistas internacionais.
O poder da publicidade comercial, que ajudou a fazer do logotipo da Nike talvez a mais conhecida assinatura de empresa no mundo, parece haver resistido facilmente aos ataques dos militantes pelos direitos humanos.

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