São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zizi Possi volta com álbum em italiano

PAULO VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto a nata da MPB vai progressivamente se afundando em discos cada vez mais preguiçosos, uma de suas intérpretes radicaliza no sentido oposto.
Zizi Possi, que vicejou nos 70/80 com hits radiofônicos pobrinhos como "Perigo" e virou a mesa com a elegância acústica de "Sobre Todas as Coisas", de 91, vai para o quarto rebento de sua fase "chique", renegando a MPB.
"Per Amore", disco de canções napolitanas, afasta uma privilegiada intérprete dos compositores a quem sempre deu voz. Não há aí, segundo ela, nenhum descontentamento pontual com a MPB nem tampouco interesses sobretudo pecuniários.
"Per Amore", há se acreditar na cantora, foi gestado em uma incrível coincidência. Junho de 96: ela, filha de pai e mãe italianos, ambos oriundi, havia acabado de voltar de uma viagem a Nápoles, quando, no dia seguinte, seu irmão, o diretor de teatro José Possi Neto, organizou a celebração de 50 anos de casamento dos pais.
Meses depois, em fevereiro, o presidente da companhia fonográfica de Zizi sugeriu a gravação de um disco em italiano, projeto acalentado pela cantora desde a tal efeméride doméstica.
Em entrevista à Folha, Zizi usou a expressão "fluxo de vida" para explicar o interesse pelo repertório -e também pela coincidência de acontecimentos.
Com a maioria das músicas arranjadas para orquestra, Zizi sabe das dificuldades que terá para divulgar seu novo disco. "Só farei show com orquestra, ainda que de câmara. Se meu show for em formato 'pocket' (bolso), ainda assim será um elefante branco."
Para isso, diz ser necessário patrocínio e considera fundamental contar os benefícios das leis de renúncia fiscal. Não crê se apresentar antes de março ou abril.
Aclamada como cantora de grandes recursos, Zizi, que jamais fez aula de canto, revela uma incrível modéstia. "Procurei a Celine Imbert e descobri que não sei respirar. Só fazendo alguns exercícios com ela consegui aumentar uma sétima de extensão."
Zizi não usou seus novos conhecimentos no disco. No entanto, mostra uma cantora familiarizada com o que expele, não se poupando em músicas cujas versões originais ficaram marcadas pelo derramamento, como "Caruso", de Lucio Dalla.
Zizi não fala italiano, mas "entende a língua muito bem". Ela contou com auxílio do irmão, com quem fez a pesquisa de repertório na Itália -e que, por algumas vezes, atuou como intérprete.
Nascida no bairro do Brás, Zizi afirma sua fé na música napolitana. "Ela tem uma beleza harmônica e melódica rara, é muito rica." Mesmo preferindo gravar temas antigos, também deu uma colher de chá para os anos 70. "Não poderia jamais deixar de gravar 'Ho Capito Que Ti Amo', que eu acho o máximo", disse.
Com tanta abertura de possibilidades de repertório, Zizi não descarta regravar seus antigos sucessos num trabalho vindouro. "No começo de minha carreira, eu fazia o melhor que podia fazer dentro do meu raciocínio limitado. Hoje, seria diferente, faria arranjos diferentes. Eu gosto da maioria das minhas músicas que as pessoas acham brega."

Disco: Per Amore
Artista: Zizi Possi
Lançamento: Polygram
Quanto: R$ 18 (em média)

Texto Anterior: Stone faz ficção de sua aventura no Vietnã
Próximo Texto: Disco tem conceito de ópera
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.