São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Crise ameaça Plano Real, diz Moody's

Agência prevê novo ataque

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

Uma das principais agências de avaliação de risco de crédito do mundo divulgou ontem relatório advertindo que as sérias dificuldades enfrentadas pelo Brasil já começaram a ameaçar o Plano Real.
O trabalho da Moody's circulou ontem no mundo todo on line, inclusive na City, o centro financeiro de Londres, que na véspera aplaudira o presidente Fernando Henrique Cardoso.
As avaliações da Moody's são acompanhadas de perto pela comunidade financeira internacional. No mês passado, a falência do banco Yamaichi, do Japão, foi precedida da divulgação de um relatório desfavorável da agência.
No caso do Brasil, não houve rebaixamento da classificação de risco, mas a Moody's prevê mais pressão sobre a moeda sobrevalorizada, ou seja, o real poderia sofrer novos ataques especulativos.
Trata-se do segundo relatório internacional que, em uma semana, faz referência à possibilidade de desvalorização. O primeiro, da Economist Intelligence Unit, não descartava a hipótese e projetava estagnação para o próximo ano.
Avanço insuficiente
A Moody's considera que a aprovação do pacote fiscal foi fundamental porque enfrentar a crise só com medidas monetárias -os juros altos- é uma política que não pode ser sustentada por muito tempo sem se tornar ineficiente. A análise é consensual no Brasil.
"O déficit fiscal é, isoladamente, a mais importante fraqueza e a ameaça mais óbvia à estabilidade financeira e macroeconômica", afirma o relatório.
A agência reconhece que alguns avanços foram feitos mas nota que a dívida pública ainda continua muito elevada.
Vilão do déficit
Para a Moody's, o sistema de seguridade social continua sendo a principal causa do déficit, e não há solução à vista para o problema, já que qualquer mudança nessa área exige a difícil aprovação de emendas constitucionais.
A agência não dá esperança aos investidores estrangeiros. "A reforma fiscal não tem chance de ser aprovada antes da eleição presidencial de outubro de 98", afirma o relatório.
A Moody's atribui à crise asiática os problemas enfrentados no Brasil. Mas argumenta que o contágio seria menor se o país não se encontrasse em situação tão vulnerável, com um déficit de cerca de US$ 40 bilhões nas contas externas.
A dificuldade maior que se avizinha, no entanto, independe da ação dos investidores estrangeiros. "Mesmo que não ocorra novo ataque especulativo, a demanda interna será adversamente afetada nos próximos meses", prevê o relatório da Moody's.
A agência elogia a ação do governo a partir de outubro, que teria melhorado os fundamentos da economia. Mas, mesmo assim, enfatiza que a pressão sobre a moeda não pode ser descartada.

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