São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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DF deu tíquetes a sem-terra, diz Sesc

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tíquetes da Ceasa, empresa de abastecimento do governo do Distrito Federal, foram usados para comprar as 1.500 refeições que alimentaram os sem-terra que invadiram o prédio do Incra na terça-feira passada.
Essa informação, que foi divulgada ontem pelo diretor regional do Sesc (Serviço Social do Comércio), Paulo Alceu Pereira, gerou uma série de desmentidos entre o próprio Sesc -que forneceu as refeições aos sem-terra-, o governo do Distrito Federal e comerciantes da Ceasa.
"As refeições foram fornecidas para atender pedidos de funcionários da Ceasa", disse o diretor regional do Sesc.
O pagamento da comida consumida pelos invasores do ministério com tíquetes de uma empresa do governo distrital reforça a acusação do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) de que o governo petista do Distrito Federal teria sido "conivente" com o protesto dos sem-terra.
Para Jungmann, o protesto dos sem-terra pretendia constranger o presidente Fernando Henrique Cardoso, que estava em visita ao Reino Unido.
Negativa
Ontem mesmo, o secretário de Agricultura do Distrito Federal, João Luiz Homem de Carvalho, afirmou que o governo Cristovam Buarque (PT) não foi responsável pelo pagamento da alimentação consumida pelos sem-terra no dia da invasão.
Segundo Carvalho, os tíquetes teriam sido usados pela Associação dos Usuários da Ceasa para atender os manifestantes ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"Eu acho essa discussão surrealista. Eu não dei marmita a ninguém e me sinto envergonhado de viver em um tempo em que é crime alimentar quem tem fome e veio aqui em busca de um pedaço de terra para trabalhar", afirmou ontem o secretário.
Mas o presidente da Associação dos Usuários da Ceasa, Eli Prata, negou a informação.
"Não fornecemos tíquetes para comprar refeições aos sem-terra", afirmou.
Notas
O Sesc é vinculado à Federação do Comércio do Distrito Federal e mantém o restaurante onde as refeições foram compradas em "quentinhas", como são chamadas as marmitas feitas com embalagens aluminizadas.
As marmitas foram distribuídas a cerca de 500 manifestantes do MST que realizaram protesto durante os últimos dias 2 e 3 em frente ao prédio onde funcionam o Incra e o gabinete de Jungmann.
Segundo o diretor do Sesc, os tíquetes foram fornecidos há um ano à Ceasa como parte do pagamento do aluguel de um restaurante. Esse estabelecimento do Sesc funcionava na área da Ceasa, localizada na periferia de Brasília.
Comprovantes de recebimento de refeições apresentados pelo Sesc à Folha mostram que a Ceasa comprou 1.500 refeições, no valor total de R$ 4.500, nos mesmos dias em que os sem-terra estiveram em Brasília.
Os sem-terra beneficiados com as "quentinhas" foram trazidos em ônibus fretados de municípios goianos e mineiros vizinhos ao Distrito Federal.
Eles foram mobilizados pelo escritório regional do MST.
MST
Valmir de Oliveira, da direção regional do MST, disse que nenhum dinheiro público do Distrito Federal foi usado em benefício dos sem-terra.
Mas ele não soube precisar quem as despesas de alimentação.
Rodrigo Lopes, da coordenação local do MST, afirmou que os tíquetes foram doados por empresários que têm estandes na Ceasa.

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