São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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Câmara aprova obrigação de frota oficial ser a álcool

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os defensores do Proálcool ganharam o primeiro round para aumentar a produção de carros movidos a álcool no país -reduzida a bem menos de 1% ao ano uma década depois do auge do programa.
Projeto de lei aprovado pela Câmara anteontem à noite obriga a União a trocar por carros a álcool toda a frota oficial do serviço público, no prazo de cinco anos. O projeto será votado no Senado antes de ir à sanção do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o Ministério da Administração, o serviço público tem hoje 30 mil veículos rodando nas administrações federais direta e indireta. O número é pequeno, se comparado à frota de 12 milhões de veículos do país. Mas a conta da substituição da frota não sairá por menos de R$ 300 milhões.
Uma mudança de última hora no projeto excluiu da obrigatoriedade carros de combate ou para transporte de tropas da frota do Exército. Mas manteve na lista carros alugados para uso oficial e veículos populares (acima de mil cilindradas) comprados por pessoas físicas com incentivos fiscais.
O projeto foi votado em regime de urgência, com o aval do Palácio do Planalto e embalado pela Frente Parlamentar Sucroalcooleira -grupo formado por nada menos que 204 deputados e 42 senadores (42% do Congresso Nacional).
"Os plantadores de cana e usineiros estão satisfeitíssimos. As montadoras dizem que tudo bem, desde que haja clientes para comprar (os carros a álcool)", resumiu o deputado Ricardo Rique (PMDB-PB), relator do projeto.
A chamada "frota verde" do governo vai garantir o "cliente" que faltava para dar novo fôlego ao Proálcool e consumir parte da superoferta de álcool do país, completou o relator.
"Sob encomenda"
"Disponibilidade de fazer veículos a álcool existe, o que não há é comprador, e esse projeto cria o consumidor", avalia Henry Joseph Jr., presidente da Associação de Engenharia Automotiva e representante dos fabricantes nas discussões. Atualmente, a demanda por carros a álcool é tão pequena que eles são produzidos praticamente sob encomenda.
No auge do Proálcool, 96% dos carros produzidos no país eram movidos a álcool. De janeiro a maio deste ano, apenas 300 unidades foram fabricadas, segundo informações do Ministério da Indústria e Comércio.
A previsão da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) é que a produção de carros a álcool poderá atingir de 150 mil a 200 mil unidades por ano, caso os governos estaduais e municipais também adotem a "frota verde".
Para estimular a produção de carros a álcool, o projeto aprovado anteontem também garante aos compradores prazo de financiamento 50% maior.
A versão final do projeto prevê ainda incentivos fiscais para a compra de carro a álcool aos antigos "caixeiros viajantes", chamados de representantes comerciais.
Na justificativa do projeto, o presidente da Comissão de Minas e Energia, deputado Flávio Derzi (PPB-MS), destaca aspectos ecológicos e sociais do Proálcool.
O deputado afirma que o programa criou 1,3 milhão de empregos e reduziu em 50% a emissão de monóxido de carbono em São Paulo.

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