São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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FHC diz que usará Proer em campanha

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que, "se for candidato", vai usar o Proer (o programa de ajuda aos bancos em dificuldades) como "peça de campanha eleitoral".
Explicou que o programa, "tão mal falado, foi, não obstante, uma das peças fundamentais para permitir o saneamento dos bancos, fazendo com que os banqueiros que atuaram mal perdessem seus bens, mas os depositantes não sofressem as consequências do colapso de um banco".
O presidente não escondeu a satisfação ao comentar que o Japão está agora fazendo isso (a sua própria versão do Proer), em alusão ao fato de que esse país também está sendo obrigado a socorrer instituições financeiras.
O resgate do Proer, que a oposição sempre apontou como uma maneira de usar dinheiro público em favor de banqueiros, foi feito na entrevista coletiva com que FHC encerrou sua visita de quatro dias ao Reino Unido.
Reeleição
Tão surpreendente quanto o anúncio do Proer como peça de campanha foi a frase "não pensei nisso ainda", ao se referir a sua candidatura à reeleição. Os jornalistas riram muito, mas o presidente, imperturbável, prosseguiu:
"Estou mais preocupado com uma porção de coisas mais imediatas, como a preservação da moeda, o desenvolvimento econômico e as questões sociais".
Depois, engatou uma pequena memória biográfica, da universidade à política, passando pelo cargo de ministro da Fazenda ("sem nunca ter desejado isso e sem me sentir capacitado").
Tudo para concluir que seu único objetivo é "servir bem" na posição em que está e não ficar pensando no próximo passo.
Continuou filosofando: "Tenho visto bastante gente sofrer por não conseguir dar novos passos. Eu já dei todos. Se não der mais nenhum, já estou bastante bem".
As surpresas terminaram aí, em todo caso. "Se houver, como tem havido até hoje, apoios amplos, e se sentir que posso corresponder a esses apoios, é claro que vou ser candidato", admitiu por fim.
Tanto será que reagiu rapidamente à pergunta sobre se a crise poderia ser motivo para que desistisse de tentar a reeleição. "Ao contrário. Talvez a crise exija que seja. Em certos momentos, você não pode fugir da raia mesmo que esteja em crise, mesmo que você não vá ganhar", respondeu FHC.
Assim mesmo, insistiu em que a decisão nada tem a ver "com realização pessoal". Nesse capítulo, declarou-se "muito contente".
O presidente diz não ter se decidido ainda sobre a reforma ministerial, que se especulou que seria feita este mês. Citou apenas uma data obrigatória e óbvia para uma eventual reforma, que é abril, mês em que os ministros que quiserem disputar as eleições de outubro terão de se afastar de seus cargos.
FHC condicionou uma eventual antecipação do novo ministério a pelo menos duas questões: haver ou não convocação extraordinária do Congresso e o grau de avanço do "processo de reformas".
O presidente embarcou de volta para o Brasil às 12h (10h em Brasília). Antes, deixou carta de agradecimento à rainha Elizabeth e ao príncipe Philip, na qual diz: "Em um mundo que se transforma com crescente rapidez, nossos povos olham para o futuro com vitalidade, determinação e confiança em sua capacidade de vencer os desafios que temos diante de nós".

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