São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997 |
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Poder de traficantes desafia a polícia DÉCIO GALINA DÉCIO GALINA; THIAGO NEY
Com cerca de 80 mil habitantes, Heliópolis (zona sudeste) é a maior favela de São Paulo. Nas últimas semanas, a favela ficou em evidência devido à onda de violência provocada por uma "guerra" entre duas quadrilhas rivais de traficantes de drogas. Devido ao tamanho da favela e ao poder dos traficantes, o batalhão da PM no bairro admite não ter condições de combater a criminalidade sem a ajuda da tropa de choque. O major Francisco Rissi Filho, do 3º Batalhão da Polícia Militar, afirma que barracos próximos aos outros, paredes e portas falsas e uma rede de túneis dificulta o trabalho da polícia. Além disso, prossegue o major, os traficantes têm várias estratégias para despistar os policiais. "Eles esticam uma linha de náilon na rua, na altura da antena dos carros da PM. Essa linha está ligada a sinos que ficam dentro de um barraco. Quando o carro passa e toca na linha, os sinos avisam da nossa chegada", conta o major, explicando uma das estratégias. A PM já teve um posto dentro de Heliópolis. Mas, há um ano e meio, o posto foi desativado por falta de verba. História A favela de Heliópolis surgiu em 1970, quando o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, transferiu 27 famílias da favela da Vila Prudente, também na zona sudeste, para a região. Heliópolis ocupa cerca de 1 milhão de metros quadrados, entre o Ipiranga e São Caetano do Sul (ABCD). Segundo a prefeitura, apenas 60% das casas da favela têm rede de esgoto. Cerca de 70% das casas na favela são feitas de alvenaria. O resto é feito de madeira. De 30% a 40% das ruas de Heliópolis são asfaltadas. Os moradores da favela, 90% deles de origem nordestina, contam com 12 linhas de ônibus. Não é só a expectativa de um tiroteio que significa risco de vida para os moradores dos dez núcleos que formam a favela de Heliópolis. Duzentas e cinquenta famílias moram em barracos que podem desabar com a chuva. As habitações mais ameaçadas ficam nas margens do córrego da Independência e do córrego do Sacomã. "A prefeitura tem a proposta de transferir os moradores que correm perigo para abrigos provisórios. Só que ninguém quer saber de abrigo", disse João Miranda Neto, 41, presidente da Unas (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Heliópolis). A história da favela conta que os primeiros moradores chegaram a Heliópolis transferidos "temporariamente" da Vila Prudente. Muitos desses barracos ameaçados já têm auto de interdição assinado desde março do ano passado. É o caso da dona-de-casa Francisca Cristina da Rocha, 34. Ela mora no beco, na altura do número 735 da estrada das Lágrimas. Um exemplo do risco de viver em Heliópolis foi o incêndio em um prédio invadido, em junho de 96. Quatro pessoas morreram, entre elas duas crianças. Texto Anterior: Sindicato dos médicos diz que irá à Justiça Próximo Texto: Bandido matou mais de 20 Índice |
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