São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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Programa quer desafogar hospitais

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Distrito Federal montou há seis meses uma alternativa para desafogar o atendimento na emergência dos hospitais da rede pública, por onde passam cerca de 5,5 milhões de pessoas ao ano.
Após constatar que 70% dos atendimentos nos prontos-socorros são desnecessários, a Secretaria de Saúde do DF instituiu o "Saúde em Casa".
Desde maio, equipes formadas por um médico, um enfermeiro, três auxiliares de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde passaram a responder por microrregiões onde residem aproximadamente mil famílias. A tarefa do grupo é evitar que atendimentos de diarréia, enxaquecas ou gripes acabem nos prontos-socorros.
Como o processo de implantação do "Saúde em Casa" é recente, as estatísticas ainda não mostram o impacto na rede hospitalar. Mas o levantamento feito pelo médico Emanuel Martins, um dos 155 que atuam nessa primeira etapa do programa, demonstra que a experiência inspirada na secular atuação dos médicos descalços chineses dá bons resultados.
Na área rural de Nova Bethânia, onde Martins trabalha, entre agosto e novembro foram feitos 914 atendimentos nas casas dos colonos. Desse total, em apenas cinco casos os pacientes foram encaminhados para centros de saúde -somente três situações exigiram remoções a um pronto-socorro.
"Se não tivéssemos atendido o pessoal aqui, mais da metade desses 914 casos teriam ido para o pronto-socorro. Isso porque, para essa gente, o melhor sistema de saúde era o ônibus que passa perto de um hospital", afirmou Martins, 50, há 25 trabalhando na área de saúde básica.
Para a secretária de Saúde do DF, Maria José da Conceição, a filosofia do "Saúde em Casa" é inverter a cultura de que saúde se busca em hospital. "Isso é um saco sem fundo. Não há, nem nos países do Primeiro Mundo, quem consiga construir hospitais e instalar tomógrafos para atender a todos."
Nos cálculos do governo petista do DF, cada paciente atendido em casa pela equipe médica custa, por ano, R$ 30 -incluídos gastos com pessoal, transporte e medicamentos. Um dia de internação num pronto-socorro, dependendo da quantidade de exames feitos, pode chegar a R$ 1.000 por pessoa.
Este ano, o governo destinou para o programa R$ 32 milhões. Para 98, quando se pretende atender, ainda que parcialmente, as 20 regiões administrativas, o orçamento programado é de R$ 52 milhões.
"A economia não é só financeira. Você melhora o nível de saúde da população, consegue corrigir uma série de problemas básicos, como higiene pessoal e da família", afirma a secretária.

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