São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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Cárdenas assume e promete segurança

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo prefeito da Cidade do México, Cuauhtémoc Cárdenas, 63, do Partido da Revolução Democrática, disse ontem, em seu discurso de posse, que "as ruas, os transportes e os espaços da cidade não nos pertencem mais, pois foram tomados pela delinquência".
A afirmação é reflexo da pressão da opinião pública, que elegeu a violência como o maior problema da cidade de 8,5 milhões (cerca de 17 milhões na região metropolitana). Há uma semana, uma passeata contra a violência reuniu 25 mil pessoas no centro da capital.
"Existe uma falta de segurança que afeta desde os mais ricos até os mais pobres", disse à Folha o arquiteto Enrique Ortiz, 60, secretário da Coalizão Internacional para o Habitat, organização sediada na capital mexicana e que reúne cerca de 350 entidades de 80 países.
"Além da delinquência organizada, houve um grande aumento da pequena violência, praticada por pessoas mais pobres, em especial os jovens", disse Ortiz.
Ele atribui o crescimento da violência à falta de oportunidades decorrentes das dificuldades econômicas vividas pelo país desde dezembro de 1994, quando o país sofreu uma séria crise cambial.
Entre janeiro e outubro desse ano, mais de 212 mil delitos foram registrados na Cidade do México. Desde 1994, a insegurança tem crescido em média 21% ao ano.
Devido à onda de violência, o presidente do México, Ernesto Zedillo, do PRI (Partido Revolucionário Institucional), adversário político de Cárdenas, abriu mão de sua prerrogativa de escolher o chefe da polícia do Distrito Federal, tarefa que coube ao novo prefeito.
Acusado de populista por seus adversários, Cárdenas é o primeiro prefeito eleito da capital desde 1929. Sua vitória, com cerca de 50% dos votos, foi considerada uma derrota para o PRI, há 68 anos no poder central. O novo prefeito, de esquerda, é pré-candidato à sucessão de Zedillo, em 2000.
Entre as medidas anunciadas por Cárdenas na área de segurança estão a retirada do Exército do policiamento urbano, e, principalmente, o combate à corrupção.
Outro problema que o novo prefeito deverá enfrentar é o crescimento excessivo do mercado de trabalho informal, com a invasão da cidade por ambulantes -são 91 mil, segundo estudo da ONU.
"Com a crise, houve um crescimento muito grande do comércio informal. Isso tem causado conflitos quase diários com o comércio estabelecido", diz Enrique Ortiz.
Ele também acredita que o novo governo terá problemas no relacionamento com os grupos que controlam o serviço de limpeza urbana e o sistema de transporte público por microônibus.
"Existem milhares de microônibus, que agravam o problema do trânsito e da poluição", diz Ortiz. "Para mudar isso, Cárdenas terá de enfrentar uma verdadeira máfia." A poluição do ar, agravada pelos 4,3 milhões de veículos da cidade, é outro ponto crítico.

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