São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aquecimento põe em risco a Amazônia

RICARDO BONALUME NETO

RICARDO BONALUME NETO; CLÁUDIA PIRES
ENVIADO ESPECIAL A KYOTO

Floresta está mais seca, diz estudo

CLÁUDIA PIRES
O aquecimento do planeta coloca em perigo a Amazônia e o fenômeno El Niño é um exemplo dos riscos que a maior floresta tropical do planeta corre, segundo pesquisa divulgada pelo Centro de Pesquisas Woods Hole, de Massachusetts, nos Estados Unidos.
Apesar de ser uma floresta equatorial úmida, a mata amazônica apresenta este ano trechos ressecados, nos quais é possível colocar fogo com muito mais facilidade, de acordo com o estudo.
Durante sete anos, os cientistas estudaram as condições de cinco áreas da floresta amazônica. Eles concluíram que toda a região está perigosamente seca por causa do aquecimento global e do El Niño.
O EL Niño é um aquecimento das águas do Pacífico ao longo da costa do Peru que modifica o clima de modo global, por exemplo criando estiagem no Norte e Nordeste brasileiros.
O estudo foi acompanhado por técnicos brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisa para a Amazônia (Inpa), em Manaus.
Os pesquisadores fizeram pequenas fogueiras na região leste da Amazônia e esperaram para ver o quanto o fogo se alastrava.
O processo vinha sendo feito no mesmo local desde o início da pesquisa, há sete anos. Neste ano, o fogo atingiu uma área dez vezes maior que nos testes anteriores.
"A situação pode se tornar muito perigosa nos próximos meses", aponta o relatório de Daniel Nepstad, um dos pesquisadores.
O estudo afirma também que em 1997 as regiões florestais no mundo -e não apenas a Amazônia- sofreram mais queimadas do que em qualquer outra época.
A proteção das florestas tropicais foi discutida em Kyoto, no Japão, na conferência internacional sobre mudanças climáticas.
A militante ambientalista Louise Coumeau, do Sierra Club do Canadá, reclamou que os governos presentes na conferência não estão interessados em proteger suas florestas por causa delas mesmas, mas porque elas podem "compensar" suas emissões de gases.
As florestas são consideradas um "sorvedouro" que reduziria a concentração de carbono na atmosfera, na forma de gás carbônico, atenuando o aumento do aquecimento do planeta. Mas florestas velhas não absorvem o carbono emitido; apenas árvores em crescimento agregam o carbono.
Coumeau afirmou que os governos querem é ter uma licença para poluir e citou as declarações do representante brasileiro, Luiz Gylvan Meira Filho (presidente da AEB, Agência Espacial Brasileira).
Meira Filho disse que usar a idéia dos "sorvedouros" para poder emitir 30% a mais de gases "não está no espírito da convenção".

Texto Anterior: Passageiros usam países árabes para 'driblar' greve
Próximo Texto: Ecologistas satirizam as negociações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.