São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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Ecologistas satirizam as negociações

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

Um dinossauro feito de ferro-velho -partes de automóveis e latas de óleo, simbolizando a dependência humana do carvão e do petróleo- foi erigido pelo grupo ambientalista Greenpeace em frente ao local da conferência sobre o clima em Kyoto, Japão.
O "carbonossauro" era uma crítica à "diplomacia jurássica" da conferência, que ontem teve sua temperatura aumentada graças a uma proposta do delegado da Nova Zelândia, Darryl Dunn.
Ele propôs que os países em desenvolvimento se comprometam a reduzir, a partir de 2014, suas emissões de gases que provocam o aquecimento do planeta.
A proposta provocou uma verdadeira comoção entre os países em desenvolvimento, que condenaram energicamente essa idéia de admitir, "pela porta dos fundos", um compromisso que, durante a conferência passada, em Berlim, em 1995, já se havia decidido que não seria necessário.
"Já vi esse filme antes. Ele se chamava 'Proposta Indecente'", disse um dos negociadores brasileiros, se referindo ao filme em que uma mulher recebe a oferta de US$ 1 milhão por uma noite de sexo.
O encontro em Kyoto, Japão, busca negociar um "protocolo" para a redução das emissões dos 33 países ricos -listados no chamado "Anexo 1" da Convenção do Clima, assinada na Eco-92.
Esses países respondem por dois terços das emissões de gases como dióxido de carbono e metano, que causam aquecimento da Terra ao aprisionar radiação solar.
O Senado dos EUA aprovou há alguns meses uma resolução para impor compromissos aos países pobres como condição para os EUA ratificarem um eventual acordo. Os EUA, sozinhos, produzem 22% dos gases que aquecem a Terra. Sem esse país, um acordo ficaria sem dúvida ineficaz.
O lobby industrial dos EUA, expresso na associação GCC (sigla para Coalização do Clima Global), que reúne 230 mil empresas, é contra as reduções e, mais ainda, se elas não incluírem os países em desenvolvimento.
Os países pobres lembraram que só 5 dos 33 países ricos têm estabilizado ou diminuído as emissões de gases e se revezaram no microfone para castigar a proposta feita pela GCC.
O físico José Goldemberg, ex-reitor da USP e ex-ministro da Ciência e Tecnologia e da Educação, declarou ontem que os países pobres vão precisar controlar suas emissões.
Goldemberg se referiu à Índia, à China e ao Brasil, países citados na resolução do Senado americano.
Mas Goldemberg ironizou a atitude dos congressistas americanos. "O Senado americano age como se fosse o Senado romano, como se fosse o dono do mundo", disse ele.
(RBN)

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