São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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MARTE E A CIÊNCIA

Recente artigo da revista científica "Nature" rejeitou suposto indício de vida em Marte anunciado em 96 por cientistas da Nasa e da Universidade Stanford. Segundo o estudo, o que se julgou serem restos fossilizados de bactérias em um meteorito marciano constituem superfícies de cristais -não eram restos de vida.
Há dois pontos importantes nessa controvérsia. A primeira diz respeito ao uso político de descobertas, a cuja influência a ciência nunca esteve imune. Num momento em que a Nasa vive ameaças de restrições orçamentárias consideráveis, é de se supor que um certo sensacionalismo em torno da suposta descoberta esteja a serviço da necessidade de reabilitar prestígio que a agência espacial desfrutou no período da Guerra Fria.
Além desse aspecto, é preciso lembrar que a investigação científica não percorre um caminho único e linear na produção de suas descobertas, e estas não se dão aos saltos. Os novos conhecimentos, por sua vez, não necessariamente invalidam os anteriores e nem sempre se constata o progresso de uns em relação a outros. Em termos práticos, o fato é que as diversas ciências, mesmo as que se consideram as mais exatas, não estão acima das contradições da existência humana e da falibilidade do homem. Ressalte-se, de resto, que é parte constitutiva da ciência a crítica permanente de seus fundamentos e conceitos estabelecidos.
A disputa a respeito da vida em Marte é -com essa intrincada polêmica em torno da natureza de pequenas bolas num pedaço de pedra- mais um exemplo cabal da enorme distância que ainda existe entre os homens e um desejável, mas inatingível, conhecimento mais completo e permanente do universo.

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