São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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De periquito a porco, mudando para sobreviver

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esse Palmeiras, que já foi periquito e hoje é porco, bem que poderia ser camaleão, posto que já mudou de cor e de nome, assim como de símbolo, de acordo com as circunstâncias, quase sempre como um truque de sobrevivência.
Era azul e branco, em honra à Casa de Savóia, quando nasceu falando italiano antes da metade da primeira década do século.
Logo em seguida, trocou o azul real pelo verde, vermelho e branco, em homenagem à bandeira tricolor republicana.
Mas continuou Palestra Itália, até que a Segunda Guerra Mundial o forçasse a adotar o brasileiríssimo Palmeiras sobre um verde tropical, que ostenta gloriosamente até hoje.
Aliás, aquele peninsular nome de batismo e as cores garibaldinas já lhe haviam causado sérios problemas bem antes.
Em 24, com a xenofobia da revolução paulista de Miguel Costa e Isidoro Dias Lopes, fora tão hostilizado que teve de abandonar o Campeonato Paulista.
Mas, se, de um lado exibia a face fascista de um Mussolini em ascensão, de outro resguardava os anarquistas e comunistas que dividiam seu tempo entre trabalhar, fazer piquetes de greve na porta das fábricas Matarazzo e torcer pelo Palestra.
Essa dupla personalidade parece, na verdade, ter perseguido o Palestra/Palmeiras desde o berço.
Embora um time de colonia (naquele tempo, meu caro editor, era colonia mesmo), naturalmente conservador, pois, como todo aquele que, distante, guarda a pátria congelada na memória, já nasceu pioneiro.
Tanto que foi o primeiro clube paulista a adquirir seu próprio estádio, para, mais tarde, reconstruí-lo por duas vezes.
Ao mesmo tempo, relutou muito em trocar os sobrenomes macarronicamente italianos pelos de origem lusitana embora um de seus fundadores levasse o brasileiríssimo nome de Álvaro F. da Silva. Negro, então, nem pensar.
Ao que me conste, o primeiro negro a envergar o uniforme do Palmeiras foi o centromédio Og Moreira, já nos anos 40.
Alto, forte, calvo como o nosso Flávio Conceição, era, porém, tão talentoso e exercia tal domínio sobre os companheiros que a torcida não resistiu e logo o apelidou de "O Toscanini da Bola", em homenagem ao genial maestro italiano.
Depois, vieram outros, como Liminha, em 50, antes de um silencioso refluxo quebrado por outro monstro sagrado do nosso futebol -Djalma Santos, já no limiar dos anos 60.
E, quando se começou a falar na modernização das gestões dos clubes, nos 80, o último clube a ser cogitado para tão grande transformação por quem conhecia os bastidores do nosso futebol esse era, obviamente, o Palmeiras.
Pois acabou sendo o pioneiro, ao assinar o convênio com a Parmalat, no início desta década. Era o camaleão, trocando de cor, para vestir-se de futuro.

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