São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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'Só não fui estuprada porque tinha o cartão'

ESPECIAL PARA A FOLHA

"Minha primeira reação foi anotar placa porque pressenti que era assalto. Eles estavam armados com pistolas. Um disse: 'É assalto sua otária'.
Eles me colocaram no banco do passageiro e, de cara, arrancaram minhas jóias. Assim que entrou no carro, um disse: 'Toda mulher do seu tipo é vaca'. E xingavam o tempo todo.
Eles diziam que coisas muito ruins poderiam acontecer se eu não tivesse o cartão (de banco). Só não fui estuprada porque, por sorte, tinha o cartão. Eles levaram R$ 100 em dinheiro e sacaram R$ 1.000 com cartão.
Eles batiam muito. Uma hora, o que estava dirigindo pegou a trava do carro e bateu muito no meu joelho, nos seios e nos pulmões. Até hoje fico esbaforida quando ando muito. Tive dentes quebrados e amolecidos. Eu apanhei muito.
Percebi que eles estavam usando quilos de jóias. É lógico, eles já assaltaram um monte de mulheres. Estão cheios de anéis, correntes e brincos.
Fui socorrida por um caminhoneiro, que tinha um celular e ligou para a polícia.
A polícia demorou 45 minutos para chegar, e isso porque eu estava próxima ao 93º Distrito Policial.
Fiquei com muitos hematomas e ainda tenho marcas nos braços, apesar de ter passado muita pomada Hirudoid. Acho que eles fazem isso porque se sentem à margem da sociedade, inferiores.
Quando vêem uma mulher frágil, aproveitam para atacar. Eles querem destruir, destruir a mulher. Percebi isso quando um deles viu a minha aliança e disse: 'Nossa, ela é casada. Já pensou o homem que tem todas as noites uma mulher bonitinha dessas? Vamos acabar com ela'.
Ainda não saio de casa. Tenho medo de andar de carro. Como vou passar na marginal? Tomo Lexotan para dormir, mas quando acordo me vem à cabeça a imagem deles."

R., 30, foi atacada às 23h do dia 28 de novembro no cruzamento da avenida Antártica com a rua Marques de São Vicente (zona noroeste), quando ia buscar o marido no trabalho.

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