São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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'Ele dizia que eu iria morrer se não o beijasse'

BIANCA PASSOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Fui abastecer em um posto, em Pinheiros. Isso eram 21h30. Na hora em que estava pegando a Rebouças, um cara bateu atrás do meu carro, uma Blazer. Eu deixei para lá, uma batida de nada, né? Mas ele começou a me seguir. Disse: 'Bateu, bateu, bateu. Vamos para a delegacia, o carro não é meu, pára, pára'.
Quando eu parei, ele disse: 'Olha, você caiu direitinho. Isso aqui é um assalto. Você vai calar a boca e vai junto'. Eu disse que não ia junto. Ele simplesmente me jogou para dentro do meu carro. Eles estavam em uma Fiorino preta. Deixaram a Fiorino em frente ao bar Bora-Bora. Andaram comigo pela Rebouças, marginal Pinheiros e pelos bairros do Itaim e Jardins.
Eles me mandaram tirar a roupa e ficaram abusando de mim. A única coisa que não teve foi sexo oral e penetração. Ficavam passando a mão em mim. Tive de abrir a perna para ele colocar a mão em mim. Perguntaram se eu raspava a vagina. Tentei reagir e apanhei. Ele me mandou tirar o agasalho. Estava de maiô por baixo. Ele parava nos cruzamento e, quando chegava polícia perto, mandava beijá-lo.
Fingia que éramos casal de namorados. Ele dizia que eu iria morrer se não o beijasse. Eu falava que não e apanhava. Eles estavam com duas 45 (calibre de arma). Na marginal, avistaram uma mulher em uma camionete Toyota. Em frente à cervejaria Continental (na avenida Juscelino Kubitschek) bateram nela (na outra vítima) e entraram na rua do Picasso (outro bar). Tive de chamar a mulher e dizer que teríamos de ir à casa do meu pai.
A gente parou em uma rua no Itaim. O de trás desceu, fingiu tocar a campainha e, quando ela desceu, a abordou. Aí o cara falou para mim: 'Você não vai fazer nada, você vai ficar quieta'.
Um tem entre 30 e 40 anos, cabelos pretos, voz rouca, é gordo, branco e mede 1,80 m. O outro tem 1,70 m, usa cavanhaque e tem cabelo castanho enroladinho. Eles tinham uma pessoa de apoio porque falavam com uma mulher pelo celular. Fiquei rodando uma hora e 30 minutos com os dois. A sorte é que deixei o cartão (do banco) em casa.
Por isso, não tiraram dinheiro do caixa eletrônico. Levaram R$ 50, moedas, três pulseiras de outro e relógio. Ficavam olhando meus documentos e perguntando sobre minha vida. Parecia que queriam fazer um assalto maior, com mais lucro, um sequestro."

A publicitária Bianca Passos, 20, foi assaltada pela gangue no último dia 27.

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