São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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O risco de deflação na Ásia

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A crise econômica na Ásia, como se percebeu nesta semana, ainda deve se agravar e traz o risco de uma deflação mais forte. Dependendo da extensão em que isso ocorrer, o impacto sobre a economia mundial pode ser grave.
Deflação é um processo continuado de queda nos preços; exatamente o contrário da inflação. Assim como a inflação causa distorções, também a deflação traz problemas. Por um lado, ela beneficia os consumidores; mas, por outro, vem acompanhada de queda no consumo agregado, o que causa desemprego.
Outro problema: a queda nos preços significa que a taxa de juros real fica mais elevada. Assim, a deflação beneficia os credores e onera os devedores. Se um processo desse é intenso, como ocorreu nos anos 30, muitos agentes que estão endividados não conseguem pagar suas dívidas e a interrupção de pagamentos leva a economia a uma depressão.
A instabilidade financeira na Ásia já causou depreciações significativas das moedas locais. Ademais, no passado recente, houve uma forte onda de investimentos para ampliar a capacidade produtiva de setores como os de informática, eletrônico, automobilístico e químico. No presente, não há compradores para oferta potencial e, como resultado, os preços têm caído.
A redução de preços de bens industrializados originários da Ásia já está impactando o comércio internacional. Apenas em novembro, o preço médio dos produtos importados pelo Estados Unidos caiu 3,9% e pode cair mais.
O risco maior de a deflação regional se agravar está no Japão. Tanto a economia japonesa está praticamente sem crescimento, quanto o abalo na confiança sobre a saúde das instituições financeiras foi dos mais fortes. O resultado tem sido uma continuada corrida aos bancos para resgatar aplicações. Isso produz uma contração na liquidez e diminui a capacidade de emprestar do sistema.
O Banco Central japonês vem expandindo a oferta de moeda à taxa de 1% ao dia nas últimas semanas, mas, ainda assim, há uma crise de liquidez. Isso porque um grande número de japoneses está preferindo guardar seus ienes em casa, com medo de perdê-los nos bancos. Ocorre a curiosa situação em que mesmo a forte expansão da oferta de moeda não produz pressões expansivas ou inflacionárias, nem está resolvendo a crise de liquidez.
Esse apego dos japoneses aos ienes vem a ser um fator favorável, pois, em última instância, permite ao Banco Central pagar toda sua dívida em moeda local sem entrar, ele próprio, no risco da inadimplência. Mas, se persistir, faz aumentar o risco de outras quebras no sistema bancário.
O fato é que estamos entrando em uma situação potencialmente perigosa para a economia internacional. A crise bancária da Ásia está iniciando uma nova fase de instabilidade e sua superação não será simples. O risco maior já não vem da Coréia ou da Tailândia, mas sim do Japão.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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