São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Ele cruzam a fronteira para jogar

SUZANA BARELLI
ENVIADA ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU

Não importa o jogo: roleta, bacará ou blackjack. Enquanto o Senado Federal discute em Brasília o projeto de lei que pode legalizar os jogos de azar no país, empresários e profissionais liberais fazem suas apostas do outro lado da fronteira.
Na semana passada, um grupo de 200 deles apostava alto em Puerto Iguazu (Argentina), fronteira com o Brasil. Participavam do torneio de blackjack do Casino Iguazú, ganho por um chileno.
O torneio é apenas uma desculpa para embarcarem para mais um final de semana de jogatina -a maioria joga pelo menos uma vez por mês. Na bagagem, nunca há menos do que US$ 10 mil para apostas. A cifra, vale destacar, é bastante conservadora. Mas eles não revelam quanto ganham ou perdem nas mesas dos cassinos.
"Jogo para ganhar, e já perdi e ganhei muito dinheiro", diz Wanderley Antunes de Oliveira, 54, dono de duas lojas em shoppings de São Paulo e que se define como um jogador profissional.
O problema dos jogadores, diz, é quando o emocional supera o racional nos cassinos. "Somos envolvidos pelo jogo, perdemos o controle e apostamos mais do que o planejado", diz.
Hipnose
Para esses jogadores, é como se a frase "senhores, façam suas apostas" tivesse um poder hipnótico. No instante em que a ouvem, colocam suas fichas na mesa e começam a torcer para ser a sua noite de sorte. Nem sempre dá certo -aliás, na maioria das vezes, não dá e eles chegam a perder milhares de dólares.
"Jogo por diversão, não é para perder ou ganhar", diz o empresário carioca Ali Cader, 51, da área de alimentação.
Cader sabe o que fala. Somente em 97, ele já foi 17 vezes a cassinos da América Latina e dos Estados Unidos e deve passar o réveillon nas mesas de bacará. Todas as suas viagens são narradas num livro de contabilidade, que, ele garante, não está no vermelho.
"Marco quanto levo de dinheiro e quanto ganho. Neste ano, estou no lucro", diz, sem revelar o volume investido.
Mas são poucos nessa posição. Rafael Murolo, sócio de uma corretora de seguros, perdeu R$ 20 mil em menos de uma hora de jogo na semana passada. Deu para o cassino uma espécie de duplicada de R$ 14 mil para o início do ano que vem e pagou o restante à vista.
Para equacionar a dívida, ele planeja vender os dois automóveis Renault que tem em casa e parcelar a compra de dois carros novos. "Ainda vou faturar, exibindo os carros zero."
Essas histórias, no entanto, não afugentam os jogadores. "Venho pelo glamour do cassino, pela doce ilusão de que vou ganhar", diz José Aparecido Barreto, 54, empresário da área de informática.

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