São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Longe de tudo, Boaçava é bairro cobiçado

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Só para comprar pãezinhos, o morador do City Boaçava vai ter de andar 1 km. A banca de jornal mais próxima fica a 700 metros.
Há ainda uma favela a menos de 2 km do bairro, que, apesar dos inconvenientes, vem sendo considerado o objeto do desejo de quem pode pagar, no mínimo, R$ 600 pelo m2 de um terreno.
O preço, superior ao de bairros vizinhos e igualmente valorizados -Alto de Pinheiros e City Lapa-, garante ruas arborizadas, áreas de lazer conservadas, vizinhança do parque Villa-Lobos e um bom -mas não totalmente eficaz- sistema de segurança.
O resultado de todo esse privilégio em plena cidade de São Paulo é uma procura maior do que a oferta e a vizinhança de alguns famosos, como o ministro Sérgio Motta e André Franco Montoro Filho, secretário do Planejamento do Estado de São Paulo.
Quem ainda não conhece o bairro acaba se apaixonando ao chegar ali, como aconteceu com Branca L. Facciolla, 33. Ela conta que a decisão de comprar uma casa no Boaçava foi por acaso.
Em uma das visitas à casa do pai, que mora no Alto de Pinheiros, ela se perdeu, foi parar no City Boaçava e gostou do que viu.
"Caí sem querer no bairro e achei maravilhoso." Ela prefere não dizer o quanto pagou pela casa de 550 m2, mas afirma ter recusado ofertas mais em conta em Pinheiros. "As casas eram boas, mas cafonas."
Valorização
"Com a oferta sendo muito menor que a procura, a tendência é o preço aumentar", diz Eduardo Jacote, 29, gerente da Jadar Imóveis.
Ele afirma que, apesar de o Alto de Pinheiros e o City Lapa possuírem um número maior de ofertas e preços mais baixos, os clientes acabam escolhendo o Boaçava porque é um bairro pequeno (480 casas, contra cerca de 2.600 no Alto de Pinheiros) e mais charmoso.
José Antonio de Almeida Filho, 49, diretor de vendas da J.Almeida Imóveis, também detectou essa preferência.
Ele afirma que um terreno de 600 m2 custa em média R$ 360 mil no City Boaçava. Para construir uma boa casa, a pessoa vai gastar mais R$ 300 mil.
"Com a metade desse valor dá para comprar uma casa do mesmo tamanho e padrão no Alto de Pinheiros", diz Almeida Filho.
Segundo as imobiliárias, se hoje o preço do m2 é de R$ 600, a solução de alguns problemas poderia causar um boom na cotação dos terrenos e casas do bairro.
"Sem a favela do Madeirite, que fica ao lado da Ceagesp, o preço do m2 do City Boaçava subiria para R$ 750", prevê Manoel Herculano da Silva Neto, 50, gerente da imobiliária Camargo Dias.
Os corretores que atuam na região ligam a valorização do Boaçava nos últimos dez anos às reformas de recuperação da praça Barão Pinto Lima, que fica no coração do bairro, e à implantação do sistema de segurança 24 horas.
Esquema quase seguro
Como nem tudo é perfeito, o sistema de segurança do Boaçava também apresenta suas falhas.
Branca Facciolla enfrentou alguns problemas durante a reforma de sua casa. Ela diz que, no início, a obra ficava aberta porque já estava pagando a taxa de segurança do bairro (R$ 70 por mês).
"Achei que não teria problemas, mas, durante a reforma, ocorreram quatro furtos consecutivos", diz. Segunda ela, os ladrões só levaram material de construção e tomaram banho.
Os moradores entrevistados pela Folha confirmaram que os furtos de bicicletas, roupas e botijões de gás representam um incômodo, mas que já estão tomando providências para resolver o problema.
"A idéia é fazer um trabalho social com o pessoal da favela. Existe até um projeto chamado Sabiá, que prevê um trabalho de educação junto aos moradores da favela", diz Antonio Limongi França, 42, presidente da SAB (Sociedade Amigos do Boaçava).
Segundo a Administração Regional da Lapa, há um projeto de reurbanização para a favela do Madeirite.

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